Da mesma forma que a Pangeia foi dividida, separando a América do Sul da África há 138 milhões de anos, o fenômeno da enorme fenda na África faz estimar que o Chifre Africano seja separado do continente por um oceano.

A fissura apareceu na Quênia em 18 de março, mais precisamente no vilarejo de Mai Mahiu, e vem crescendo a partir desse dia. Ela já alcança quilômetros de comprimento com alguns metros de largura e resulta da grande falha tectônica conhecida com Vale da Grande Fenda, ou Vale do Rift, situado na África Ocidental.

Esse vale, por sua vez, surgiu em razão de uma erupção vulcânica em 2005 e, embora hoje seja seco, encontra-se abaixo do nível do mar - o que propicia a formação de um novo oceano.

Para os geólogos do Grupo de Investigação de Falhas Dinâmicas da universidade Royal Holloway, o aparecimento da fissura evidencia a atividade ao longo da parte oriental do Vale da Grande Fenda (Etiópia, Quênia e Tanzânia), indício de que o Chifre da África será separado do resto do continente, formando uma ilha no Oceano Índico - mas é claro que tal fenômeno levará dezenas de milhões de anos para se concretizar.

Os pesquisadores já monitoram a atividade tectônica na região desde de 2005. Em uma conferência no Royal Society de Londres, foi informado que a fenda que se abriu naquele ano tinha 60 quilômetros. Segundo um dos coordenadores do estudo britânico, notou-se que, em um breve monitoramento de 10 dias, a expansão chegou a 8 metros.

Se estendendo por mais de 3 mil km, o vale vai desde o Norte do Golfo do Adén até o Sul do Zimbábue, atravessando a placa africana no meio, informou a geóloga Lucía Pérez Díaz à revista The Conversation. Para ela, essa fenda proporciona uma situação única de poder acompanhar as etapas do processo de divisão de continentes em tempo real.

Normalmente, esse processo de separação ocorre debaixo dos oceanos, impossibilitando um estudo tão detalhado.

Hoje, em Afar a camada exterior sólida da Terra (litosfera) está quase completamente rompida. Quando essa ruptura estiver completa, daqui a dezenas de milhões de anos, “o leito marinho avançará ao longo de toda a fenda”, explica a geóloga.

Assim, será formado um novo oceano que vai diminuir a antiga África e criar uma ilha composta de partes da Etiópia, Somália, incluindo o Chifre da África.

Efeitos para a população

O que você pensaria se, um dia, acordasse e notasse uma grande rachadura no meio do assoalho da cozinha? E se, um mês depois, essa mesma rachadura já tivesse alcançado vários metros?

Foi o que aconteceu com a família de Eliud Njoroge. Conforme declaração à agência Reuters, foi um momento de pânico: "Minha mulher começou a gritar para os vizinhos, pedindo ajuda para tirar nossos pertences de casa".

A família dele, juntamente com outras residentes na região, estão sendo realojadas. É necessário evacuar a região para evitar os desmoronamentos eminentes pela movimentação tectônica.

A fissura aumenta praticamente em linha reta. Por isso, ao ver que vem naquela direção, sabe-se que é o momento da evacuação, alertam os geólogos. Além disso, danos na infraestrutura da região atrapalham e aos poucos podem dificultar o fluxo de acesso ao local. Por exemplo, a estrada que liga a cidade de Narok a capital queniana Nairóbi está interrompida pela fissura.