O mundo das notícias é complexo, e histórias e imagens falsas costumam ser amplamente compartilhadas nas redes sociais. A equipe editorial da Blasting News identifica as informações enganosas e as fraudes mais populares toda semana para ajudá-lo a entender o que é verdade e o que é mentira. Abaixo, também temos uma nova seção na qual focaremos todas as semanas em diferentes alegações falsas vinculadas especificamente às eleições que ocorrerão em todo o mundo este ano e às narrativas falsas criadas usando ferramentas de IA.
Não há pesquisas que apoiem afirmação de Trump de que 82% dos americanos acham que eleição de 2020 foi fraudada
Alegação falsa: Durante um comício realizado no último dia 2 de março na cidade de Greensboro, na Carolina do Norte, o ex-presidente Donald Trump afirmou que uma pesquisa recente teria indicado que 82% dos americanos acham que as eleições presidenciais de 2020 foram fraudadas.
“O que aconteceu naquela última eleição é uma vergonha, e não vamos deixar que aconteça novamente”, disse Trump durante o evento.
Verdade:
- Uma busca na internet mostra que não há nenhuma pesquisa recente que corrobore a declaração de Trump de que 82% dos americanos acreditam que eleição de 2020 foi fraudada.
- Entre os levantamentos mais recentes, um realizado em dezembro passado pelo jornal Washington Post e a Universidade de Maryland indica que 36% dos entrevistados responderam achar que a vitória de Biden foi ilegítima. Resultado parecido foi apresentado por uma pesquisa realizada em agosto passado pelo Centro de Pesquisa de Assuntos Públicos da Associated Press-NORC, segundo a qual “sete em cada 10 [entrevistados] dizem que Biden foi legitimamente eleito presidente (...) Mas entre os republicanos, 57% dizem que a eleição de Biden foi ilegítima”.
- Desde a derrota de Trump no final de 2020, o único levantamento que se aproxima da declaração do ex-presidente é uma pesquisa realizada em 2021 pelo Public Religion Research Institute (PRRI), uma empresa de pesquisa de opinião pública, segundo a qual 82% dos eleitores republicanos que afirmaram confiar mais na Fox News do que em qualquer outro meio de comunicação acreditavam que a eleição foi roubada de Trump. Entre todas as pessoas pesquisadas, independentemente de sua orientação política, este número caia para 31%.
- Desde que foi derrotado nas urnas pelo atual presidente Joe Biden, Trump vem provendo a falsa alegação de que as eleições de 2020 teriam sido fraudadas. Em mais de 60 ações judiciais que contestavam o resultado do pleito, o ex-presidente e seus aliados não conseguiram provar qualquer irregularidade.
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— BlastingNews FactCheck (@BNFactCheck) March 8, 2024
Deputada republicana não publicou que “ateus estão usando satélites para interceptar orações”
Alegação falsa: Usuários das redes sociais nos Estados Unidos compartilharam uma reprodução de tela de uma suposta postagem feita pela deputada republicana Marjorie Taylor Greene na plataforma X, na qual a congressista afirmaria que “ateus estão usando satélites para interceptar orações para Jesus”.
A publicação é acompanhada de um panfleto intitulado “Cristãos Contra Satélites”, que afirma, entre outras coisas, que “os satélites interferem na nossa capacidade de comunicar eficazmente com Deus” e “interferem nas trajetórias de voo dos anjos”.
Verdade:
- Apesar de Marjorie Taylor Greene, uma ferrenha apoiadora de Donald Trump e integrante da ala mais radical do Partido Republicano, ser famosa por compartilhar desinformação, chegando a ser punida pelo Congresso dos EUA em 2021 por apoiar teorias de conspiração, não há nenhum registro de que a postagem viral tenha sido publicada na conta da deputada na plataforma X (ou em qualquer outro perfil dela em redes sociais).
- Uma busca reversa na internet mostra que o mesmo panfleto intitulado “Cristãos Contra Satélites” parece ter sido compartilhado originalmente na plataforma X em 10 de dezembro de 2023, por um perfil satírico chamado @PastorAlexLove.
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General americano não foi morto pelo Hamas em Gaza
Alegação falsa: Usuários das redes sociais ao redor do mundo compartilharam uma foto de um homem em uniforme militar, capacete e óculos escuros, acompanhada da alegação de que a imagem mostra o “general Havery Skidder, comandante da Força Delta dos EUA”, que teria sido morto em uma emboscada do Hamas em Gaza, junto com sua “unidade de forças conjuntas israelense-americanas”.
Verdade:
- Uma busca reversa na internet mostra que a imagem compartilhada nas redes sociais foi incluída em uma galeria de fotos que acompanha um artigo publicado pela agência Associated Press em agosto de 2021, intitulado “Amigos dos EUA tentam resgatar irmão de armas no Afeganistão”.
- A legenda da imagem identifica o homem em uniforme militar como sendo Ryan Brummond, oficial das Forças Especiais dos EUA, em registro feito no Afeganistão. Uma busca pelo nome de Ryan Brummond na internet encontra que ele está listado atualmente como médico residente em pediatria na Faculdade de Medicina da Geórgia.
- No último dia 5 de março, o secretário de imprensa do Pentágono, Pat Ryder, afirmou que não havia nenhum plano para enviar forças americanas para o conflito em Gaza.
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Vídeo não mostra arma de energia dirigida iniciando incêndio florestal no Texas
Alegação falsa: Após o estado americano do Texas enfrentar nos últimos dias o maior incêndio florestal de sua história, deixando ao menos duas pessoas mortas e mais de 500 mil hectares de área devastada, usuários das redes sociais nos Estados Unidos compartilharam um vídeo que mostra o que parecem ser feixes de laser verdes disparados atrás de uma casa durante a noite.
As publicações sugerem que as imagens teriam sido gravadas no Texas e mostrariam uma arma de energia dirigida causando os recentes incêndios florestais no estado.
Verdade:
- Uma busca reversa na internet mostra que o vídeo viral foi publicado originalmente no TikTok, Instagram e Facebook em 31 de dezembro de 2023, nos perfis de um usuário chamado Antonio Williams, que se descreve como um “criador de vídeos”.
- A legenda das postagens, feitas quase dois meses antes do início dos incêndios florestais no Texas, alerta que as imagens são “apenas para fins educacionais”. Em outras publicações em seus perfis, o usuário compartilha vídeos com claros sinais de manipulação digital, como um óvni sobrevoando uma cidade e um dragão seguindo um avião.
- Enquanto as autoridades do Texas investigam as causas dos incêndios florestais, proprietários de terras na região afetada entraram com ações na Justiça contra uma empresa de energia local, argumentando que a queda de uma torre de transmissão teria iniciado os incêndios.
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IA e as fake news
por David Mazzucchi
Fotos virais de Trump posando com pessoas negras são geradas por IA
Alegação falsa: Duas fotos de Donald Trump posando com pessoas negras, publicadas na web por seus apoiadores, foram amplamente compartilhadas nas redes sociais.
Uma delas, publicada na plataforma X em 9 de janeiro por uma conta chamada Shaggy, mostra Trump posando com jovens negros em uma calçada, alegando que Trump “[parou] sua carreata para tirar fotos com jovens que acenaram para ele”. A publicação obteve mais de um milhão de visualizações. A outra foto, publicada no Facebook pelo apresentador de rádio conservador Mark Kaye em 29 de novembro de 2023, mostra Trump com um grande grupo de negros, aparentemente comemorando o Natal. A postagem mostra alto engajamento, com mais de 150 comentários e mil curtidas.
Verdade:
- A foto postada por Shaggy inclui uma marca d'água indicando o nome do autor original, @Trump_History45 – uma conta que publica principalmente imagens geradas por IA de Trump em situações históricas falsas, como Donald Trump “em sua viagem para se tornar a primeira pessoa a circunavegar a Terra - 1522”, ou nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. A foto também mostra os típicos sinais de falsificação de IA em pequenos detalhes, principalmente nas mãos de Trump, que não têm o número correto de dedos.
- A foto de Mark Kaye estava na parte inferior de uma postagem de texto sobre um organizador do BLM de Rhode Island que havia declarado seu apoio a Trump. A história é verdadeira, mas a foto que a acompanha mostra falhas semelhantes às de Shaggy: os dedos de Trump parecem estar com membranas na mão esquerda, e o dedo indicador direito apresenta uma curva improvável. Alguns comentários na postagem apontam a falsificação, enquanto outros são enganados por ela.
- Esses dois casos de desinformação sobre IA foram divulgados por uma investigação do programa “Panorama”, da emissora britânica BBC, no início desta semana. Ao ser procurado para comentar, Kaye afirmou que o fato de uma pessoa ter sido mal informada pela imagem era “um problema dessa pessoa, não da publicação em si”. A pessoa por trás da conta Shaggy no X bloqueou os jornalistas da BBC que lhe perguntaram sobre a imagem gerada por IA.
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— BlastingNews FactCheck (@BNFactCheck) March 8, 2024
Artigo gerado por IA usou citações inventadas de acadêmica real
Alegação falsa: Um artigo publicado no portal de notícias indiano Biharprabha sobre o chatbot de IA da Meta incluiu citações de uma acadêmica americana, a Dra.
Emily Bender. De acordo com o artigo, a Dra. Bender afirmou que “o lançamento do BlenderBot 3 demonstra que a Meta continua lutando para lidar com preconceitos e desinformação em seus modelos de IA”. Bender é destacada nop texto como uma “pesquisadora líder em ética de IA”.
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— BlastingNews FactCheck (@BNFactCheck) March 8, 2024
Verdade:
- A Dra. Emily Bender é, de fato, uma acadêmica que fala com bastante frequência aos meios de comunicação sobre os desenvolvimentos em IA, mas ela não é uma “pesquisadora líder em ética de IA”, como afirma o artigo da Biharprabha. Sua experiência vem do fato de que ela é diretora do Laboratório de Linguística Computacional da Universidade de Washington – um campo de estudo totalmente diferente.
- Em entrevista ao site de notícias indiano The Quint, que divulgou a história pela primeira vez, a Dra. Bender declarou que não tinha registro de ter conversado com nenhum jornalista do Biharprabha.
- Em resposta a um e-mail da Dra. Bender, o cofundador da Biharprabha, Abhishek Bharadwaj, admitiu que o artigo foi escrito usando a inteligência artificial Gemini do Google e que ela “criou este artigo citando você erroneamente”. Bharadwaj explicou à Dra. Bender que sua citação havia sido removida e que eles haviam “publicado uma retratação no final do mesmo artigo”. Embora essas alterações tenham sido de fato feitas no artigo, a assinatura no topo ainda afirma que ele foi escrito pela “equipe da BP”.