O mundo das notícias é complexo, e histórias e imagens falsas costumam ser amplamente compartilhadas nas redes sociais. A equipe editorial da Blasting News identifica as informações enganosas e as fraudes mais populares toda semana para ajudá-lo a entender o que é verdade e o que é mentira. Aqui estão alguns dos boatos falsos mais compartilhados da semana.
London Eye não está sendo desmontada e transferida para a Escócia
Alegação falsa: Uma publicação feita no último dia 10 de março em um grupo do Facebook chamado Travel Scotland Goals Group alega que a famosa roda-gigante London Eye, uma das principais atrações turísticas de Londres, estaria sendo desmontada para ser transferida para as margens do lago Lomond, na Escócia.
“Originalmente planejada como uma atração turística para o lago Lomond, ela foi alugada para a cidade de Londres por um período de 25 anos, que agora está expirando”, diz a postagens, acompanhada de três supostas imagens da London Eye sendo desmontada.
Verdade:
- Uma busca reversa na internet mostra que as três imagens que ilustram a postagem, na verdade, são da construção da atração, em 1999. A foto maior pode ser encontrada em diferentes ângulos no site da agência de imagens Alamy. A foto inferior esquerda ilustra um artigo publicado pela BBBC News em 6 de julho de 1999. Por fim, a foto inferior direita foi retirada de uma galeria de imagens históricas da London Eye publicada pela BBC News em ocasião dos dez anos da atração, em 2010.
- Segundo o verbete dedicado à London Eye na página da Enciclopédia Britânica, a atração foi criada pelos arquitetos David Marks e Julia Barfield, da Marks Barfield Architects, em 1993, com sua construção tendo início em 1998. Sua inauguração oficial, pelo então primeiro-ministro britânico Tony Blair, ocorreu em 31 de dezembro de 1999, marcando a virada do milênio.
- Ainda segundo a Enciclopédia Britânica, a London Eye foi originalmente programada para ser desmontada após cinco anos, mas acabou sendo mantida no local devido à grande popularidade, sendo atualmente, segundo seu site oficial, a atração turística paga mais popular do Reino Unido.
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Aumento de casos de câncer de pâncreas entre mulheres jovens é anterior à pandemia da Covid-19
Alegação falsa: Em uma publicação recente no Facebook, uma página antivacina australiana compartilhou uma reprodução de tela de um artigo do jornal britânico Daily Mail intitulado: “Alarme com explosão de 200% no número de mulheres e meninas jovens com câncer de pâncreas, enquanto os principais especialistas admitem que estão perplexos com o aumento ‘assustador’ da doença mortal”.
Acompanhada da legenda “nunca esqueça, nunca perdoe”, a postagem gerou vários comentários questionando a segurança das vacinas da Covid-19.
Verdade:
- Publicado pelo Daily Mail no último dia 23 de fevereiro, o artigo usa dados de uma pesquisa da Cancer Research UK para indicar que as taxas de câncer de pâncreas entre mulheres com menos de 25 anos de idade no Reino Unido aumentaram 208% desde o início da década de 1990.
- Tanto o artigo do Daily Mail quanto a pesquisa publicada no site da Cancer Research UK deixam claro que os dados apresentados foram coletados entre 1993 e 2018, anterior, portanto, ao início da pandemia da Covid-19, em 2020.
- Segundo o artigo, que destaca que a mesma variação não foi registrada entre homens com menos de 25 anos no Reino Unido, especialistas ainda buscam uma explicação para o aumento específico entre mulheres jovens, havendo a suspeita de que as crescentes taxas de obesidade possam estar por trás dessa tendência.
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Vídeo não mostra policial repreendendo imigrantes desempregados no Japão
Alegação falsa: Um vídeo no qual um homem de uniforme azul e máscara aparece repreendendo e depois discutindo com um grupo de pessoas na rua foi compartilhado nas redes sociais, acompanhado da alegação de que as imagens mostrariam um policial de Tóquio impedindo “imigrantes desempregados” de “vadiar” na rua.
Verdade:
- Uma busca reversa na internet mostra que o vídeo foi compartilhado em 1° de novembro de 2022 por um blog japonês chamado Toychan. Segundo a publicação, as imagens foram gravadas pelo criador de conteúdo Takeshi Goto, ou Reiwa Take-Chan, no bairro de Shibuya, em Tóquio, durante o Halloween daquele ano.
- A postagem traz um link para a íntegra do vídeo publicado pelo criador de conteúdo em sua página no YouTube. A postagem, no entanto, não está mais disponível. Um artigo publicado por um veículo de imprensa japonês em 21 de outubro de 2023 indica que a conta de Reiwa Take-chan foi eliminada do YouTube por violar as políticas da plataforma, que proíbem conteúdos destinado a assediar, intimidar ou praticar bullying.
- Por meio da Wayback Machine, plataforma que permite o acesso a versões antigas de páginas da internet, mesmo que elas tenham sido excluídas, é possível constatar que o vídeo foi publicado por Reiwa Take-Chan em 31 de outubro de 2022, com o seguinte título: “Quando repreendi as pessoas sobre jogar lixo e fumar na rua durante o Halloween em Shibuya, jogaram cerveja em mim.” A partir do minuto 5:38 é possível ver a mesma cena compartilhada nos últimos dias nas redes sociais.
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Daniel Alves não tirou a própria vida em prisão na Espanha
Alegação falsa: Após o jogador Daniel Alves ser condenado no último mês de fevereiro a 4 anos e 6 meses de prisão por abusar de uma mulher no banheiro de uma boate em Barcelona, em dezembro 2022, usuários das redes sociais no Brasil compartilharam a alegação de que o atleta teria tirado a própria vida na prisão onde cumpre pena na Espanha.
Verdade:
- Em nota publicada nos Stories do Instagram no último dia 10, Graciele Queiroz, advogada da família de Daniel Alves, disse: “Mais uma vez faltam com respeito e propagam Fake News, gerando um terrorismo midiático com a família Alves. Como nas ocasiões anteriores, é importante ressaltar que NUNCA foi acionado o protocolo anti suicídio em Brian 2. Daniel Alves NÃO esteve em depressão ao sair do julgamento, apesar dos esforços midiáticos para difamá-lo, ignorando que ele tem pais idosos.”
- Ney Alves, irmão do jogador, também se pronunciou sobre o boato em seu perfil no Instagram: “Já condenaram o cara. Não basta já? Já condenou o cara. Ele está preso. Agora, maior loucura aqui. Vocês querem a morte, desejar ver meu irmão morto. Como assim? Quanta crueldade é essa?”.
- Uma busca na internet mostra que o boato foi publicado originalmente na plataforma X por um perfil satírico chamado @Al_buquerq. Após a grande repercussão do caso, o responsável pelo conta publicou o seguinte comentário na postagem original: “Gente, pelo amor de Deus, que repercussão é essa? Eu estou me referindo ao meu primo Danielzinho de Nova Iguaçu que tava sumido, mas já acharam ele com vida”.
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IA e eleições
por David Mazzucchi
Clip com gafes de Trump não foi manipulado por IA
Alegação falsa: Na última terça-feira (12), em uma audiência do Comitê Judiciário da Câmara dos EUA, o deputado democrata Jerry Nadler exibiu um clip com diversas cenas do ex-presidente Donald Trump cometendo gafes.
O objetivo da audiência era ouvir o depoimento do promotor especial Robert Hur, que recentemente divulgou seu relatório sobre a suposta retenção de documentos confidenciais por Joe Biden quando ainda era vice-presidente, no qual ele questionou sem fundamento a memória e a competência do atual mandatário. Em resposta ao clip de Nadler, Trump fez uma publicação em seu perfil na rede Truth Social alegando que “a inteligência artificial foi usada por eles contra mim em seus vídeos sobre mim. Não pode fazer isso, Joe!".
Verdade:
- Não há nenhuma indicação de que algum dos vídeos exibidos durante a declaração do deputado Nadler tenha sido criado ou manipulado usando tecnologia de IA. A criação de vídeos por IA está em seu início, com ferramentas como Sora (dos criadores do ChatGPT) criando clipes breves que, embora impressionantes, não resistem a muita análise. Uma maneira mais comum de criar vídeos falsos com IA é pegar uma filmagem existente do sujeito e adicionar áudio falso usando IA treinada na voz da pessoa, como foi feito com Greta Thunberg no ano passado. Embora o áudio gerado por IA imite o sujeito de forma impressionante nesses casos, ele raramente combina de forma convincente com o vídeo de origem, e as tentativas de manipular a imagem (ou seja, alterar os lábios do sujeito para que pareçam dizer o áudio gerado por IA) geralmente são fáceis de detectar. Os clipes da declaração de Nadler não apresentam essas falhas.
- Cada um dos clipes usados na montagem de Jerry Nadler pode ser rastreado até sua fonte original usando a pesquisa reversa de imagens ou pesquisando as citações em formato de texto. O site de notícias de tecnologia Gizmodo reuniu todas as fontes de vídeo usadas na montagem em uma única galeria.
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— BlastingNews FactCheck (@BNFactCheck) March 15, 2024
Artigo levanta questões sobre o uso da IA na redação acadêmica
Nossa próxima história sobre IA não é uma notícia falsa, mas sim uma importante amostra do novo papel que a IA já está desempenhando em domínios inesperados.
Um estudo publicado recentemente na revista científica Surfaces and Interfaces passou a circular nos fóruns de ciência e IA após leitores notarem que sua introdução começava da seguinte forma: "Certamente, aqui está uma possível introdução para o seu tópico" –uma frase que se assemelha muito a uma tecnologia de geração de texto respondendo a uma consulta.
- A Blasting News Fact Check entrou em contato com um dos autores do estudo, um professor da Universidade de Geociências da China –uma universidade pública com sede em Wuhan–, que negou o uso de qualquer ferramenta de IA para escrever o artigo. O autor explicou por e-mail que a frase foi incluída por um aluno porque “parecia muito fresca” (suspeitamos que algo pode ter se perdido na tradução aqui). O autor afirmou ainda que o artigo “não foi escrito usando o ChatGPT” e pediu desculpas pelo que chamou de “erro ridículo”.
- A Elsevier, empresa que publica a Surfaces and Interfaces, afirma em seu guia para autores que a IA pode ser usada no processo de redação, mas que esse uso deve ser feito “apenas para melhorar a legibilidade e a linguagem”. Sua política também especifica que o uso de tal tecnologia deve ser divulgado “no final do artigo, em uma seção separada antes da lista de referências”. Não há essa divulgação no estudo.
- A versão do artigo publicada no site da Surfaces and Interfaces inclui “marcos de publicação” que mostram como o texto passou de “recebido” pela editora em novembro do ano passado a “revisado” em janeiro, antes de ser “aceito” em fevereiro e finalmente publicado. Até a publicação deste artigo, a Elsevier não respondeu ao nosso pedido de comentário.