Homens gays são alvo frequente de homofobia por parte da sociedade heteronormativa, mas homossexuais afeminados sofrem ainda mais com o preconceito, inclusive vindo de outros gays "machos". Essa foi a conclusão a que chegou uma pesquisa realizada por Jarid Arraes para o movimento LGBT Brasil e publicada por ocasião do Dia Internacional da Luta Contra a Homofobia, comemorado no último domingo, 17 de maio.

O preconceito contra os gays "que dão pinta" começa já na infância. Segundo um dos gays ouvidos, desde o primário ele já era categorizado e estigmatizado como afeminado pelas outras crianças, que o xingavam de "bicha", "boiola", e outros adjetivos mais agressivos, por causa de suas atitudes mais delicadas e trejeitos.

Por isso, conta, teve de se policiar e não "dar pinta" para evitar uma exposição vexatória. Essa situação durou até a sua entrada na faculdade, onde encontrou um ambiente menos repressor e pôde desenvolver o senso crítico. Para ele, assumir-se, levantar bandeira enquanto afeminado "é um ato de resistência".

Ódio contra afeminados revela misoginia

Uma das propostas dos ativistas gays é questionar a origem dos desejos e preferências sexuais, desmistificando a noção de "gosto". Segundo o ponto de vista da maioria dos entrevistados, o gosto de cada um seria uma construção social, fruto da cultura e da interação entre os membros de uma determinada sociedade ou grupo social. Assim, o senso comum exprime-se com preconceito em relação também a pessoas gordas ou negras, ridicularizando-as ou mesmo discriminando-as.

"Para a aceitação da nossa sua própria condição de gays afeminados e o empoderamento é necessário todo um trabalho de educação da sociedade", afirmam.

Essa conscientização deve questionar o padrão de heteronormatividade, ou seja, a ideia de que todos devem se comportar segundo uma "divisão binária" da sociedade, onde mulheres são "femininas" e homens são "masculinos".

Tal pressuposto parte da concepção errônea de que todas as pessoas são heterossexuais e, além disso, exprime um sentimento de misoginia, de desprezo ou aversão às mulheres, isto é, define a feminilidade como algo inferior à masculinidade, considerada como uma qualidade de força e superioridade. Assim, tudo o que diz respeito à mulher, inclusive um Comportamento "feminino" de homens, gays ou não, seria interpretado como pior, mais fraco, inferior, indesejável.

Os mecanismos machistas evidenciam-se em situações onde gays afeminados são hostilizados, inclusive por outros homossexuais de comportamento "mais discreto", tolerado pela sociedade. Isso faz com que, nas palavras de um dos entrevistados, "nós [os gays afeminados] sejamos considerados a escória da sociedade". Alguns depoimentos destacam que a violência contra gays, que mata anualmente milhares de homossexuais no Brasil, esteja voltada fundamentalmente para aqueles "que dão pinta".

Críticas ao movimento LGBT

O próprio movimento LGBT sofre críticas incômodas por parte de alguns ativistas. Apesar da importância das pautas discutidas, como o combate à homofobia e a desmoralização de pretensos tratamentos de "cura gay", eles questionam a discriminação que sofrem de parte dos "gays machos".

Para os militantes gays afeminados, o próprio movimento precisa ser revisto e problematizado, e privilégios e preconceitos existentes dentro da comunidade de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros devem ser discutidos, a fim de que se tenham políticas mais contundentes para questões que "são sempre deixadas de lado".