Um passeio por templos da tradicional instituição religiosa denominada Congregação Cristã no Brasil revela a preservação de um patrimônio imaterial do nosso idioma: a grafia segundo as normas ortográficas vigentes até a década de 30. No caso, o nome da Igreja é grafado com o adjetivo "Christã" em vez de "Cristã", como normaliza o acordo ortográfico vigente. Um desses templos, localizado na Penha - Zona Leste da Capital Paulista, é tombado pelo patrimônio histórico da cidade de São Paulo, motivo pelo qual a ortografia na fachada não pode ser alterada.
Dados sobre as reformas ortográficas permitem-nos inferir que a construção do templo na Penha é anterior à década de 40, pois as regras aprovadas em 1931 foram homologadas só em 1938 e colocadas em vigor no ano de 1941. Foi nesse contexto de mudança gramatical que palavras como "commercio", "telegramma", "machina" e "pharmácia" tiveram a grafia alterada para formas tais como conhecemos atualmente.
Outro tradicional templo da Congregação Cristã no Brasil que mantém a grafia original está localizado no bairro do Bom Retiro, também em São Paulo. Mesmo com uma reforma predial realizada recentemente, os membros optaram por manter a fachada original, tendo como objetivo a preservação do seu patrimônio.
Outro edifício histórico a manter a grafia original na fachada é o Teatro Municipal de São Paulo, cujo topo traz a grafia "Theatro".
Nome da igreja sofreu alteração na década de 60
Na década de 60, a igreja era chamada de Congregação Cristã Do Brasil, e por decisão ministerial optou por trocar a preposição, passando a chamar-se Congregação Cristã NO Brasil.
Novo acordo ortográfico altera o nome de outra tradicional igreja brasileira
Atualmente, o acordo ortográfico vigente é o de 2009, que prevê mudanças em palavras como plateia, ideia e feiura, que passaram a ser grafadas sem o acento agudo. A nova norma prescreve que em palavras paroxítonas com os ditongos abertos éi e ói não deve incidir acento agudo.
Dessa forma, o nome da tradicional igreja Assembleia de Deus passa também a ser grafado sem acento. Resta-nos saber se a igreja também manterá alguns de seus edifícios com a grafia antiga a fim de recontar uma parte da história da ortografia da língua portuguesa no Brasil.