Não existe um significado universalmente aceitável para “mentira”, mas os dicionários definem a palavra como: “ato ou efeito de faltar à verdade; afirmação contrária à verdade, feita com a intenção de enganar; engano propositado...”

Desde o princípio da humanidade, a mentira se faz presente na sociedade. Na Bíblia Sagrada, há diversos relatos de pessoas que mentiram para fugir de uma situação ou para se beneficiar das circunstâncias, como: Abraão mente ao rei Abimeleque que Sara é sua irmã (Gênesis 20:2-3); com a ajuda de sua mãe, Sara, Jacó engana a Isaque, seu pai, e assume o lugar de seu irmão gêmeo Esaú (Gênesis 27:9-27); José é vendido como escravo por seus irmãos, que mentem a seu pai, Jacó, dizendo que ele está morto (Gênesis 37:18-33) e tantas outras passagens descrevem histórias de pessoas que mentiram.

De acordo com estudos realizados por psicólogos, o ato de contar mentiras compulsivamente, sem benefícios externos e geralmente restritos a assuntos específicos, é um transtorno psicológico denominado MITOMANIA. O portador desse transtorno denomina-se MITOMANÍACO ou MITÔMANO. O mitomaníaco geralmente não tem total ciência de estar mentindo, tendo dificuldades inclusive para lembrar o que é verdade ou invenção. Ele acaba acreditando na mentira que conta.

A mitomania pode se manifestar por diversos motivos, entre os quais, o desejo de aceitação pelo grupo social em que convive.

Esse distúrbio psicológico muitas vezes se apresenta associado a angústia profunda, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), depressão, transtorno ansioso ou de humor.

A mitomania não é considerada uma mentira compulsiva, mas uma doença que, se não for tratada, pode causar transtornos sérios ao paciente. Essa doença geralmente deve-se a uma profunda necessidade de atenção.

Para o mitomaníaco o objetivo do discurso “mentiroso” é apenas um meio para outros fins, uma espécie de consolo. Ele mente sem perceber.

Não há a intenção de fraudar, porque ele mesmo acredita na história que está contando. Ao contrário do mentiroso/fraudador, que possui a finalidade específica de obter algum tipo de benefício.

As histórias contadas pelo mitomaníaco normalmente possuem algum elemento de verdade. Em caso de confronto, ele pode até admitir a mentira, mesmo contrariado.

Contar mentiras torna-se uma característica natural de sua personalidade, não havendo benefícios externos (vender produtos, manter relacionamentos ou impunidade de um crime). Suas mentiras o apresentam favoravelmente, como alguém corajoso, esperto, feliz, bem sucedido ou bem relacionado com pessoas famosas.

São raros os casos de mitomaníacos que buscam ajuda por vontade própria, pois eles mesmos não percebem que sofrem do transtorno. Cabe à família e amigos próximos a ajuda essencial para recuperação do paciente. Aconselha-se que os familiares conversem claramente sobre o problema com o mitomaníaco, até que ele expresse o desejo de melhora, e façam o acompanhamento para que ele não se sinta melancólico, depressivo ou desenvolva o desejo de suicídio.

A mitomania não deve ser confundida com outras psicoses nas quais a mentira se apresenta apenas como um dos sintomas.