O brasileiro é internacionalmente conhecido como um povo receptivo, sorridente, apesar dos problemas, criativo e que sempre "samba" para resolver as mais diversas situações. Povo pacato, tradicionalmente acomodado em sua zona de conforto, ou seria de desconforto conhecido.

Desde sete anos atrás, quando elegemos deputado federal o palhaço Tiririca, pela primeira vez com o slogan "pior que tá não fica", já tivemos várias surpresas, ingratas: o escândalo do Petrolão, tríplex no Guarujá, bandeira vermelha de tarifação na conta de energia elétrica para cobrir o rombo que o próprio Governo causou e agora o aumento súbito e grotesco dos combustíveis em quase R$ 0,40 para pagar a conta de um governo que pede austeridade, mas aumenta salários de magistrados, deputados e assessores parlamentares, indo na contramão das medidas de sacrifício que pede ao povo.

E por que não estamos nas ruas, protestando contra isso?

Curioso ressaltar que por R$ 0,02e centavos fomos às ruas protestar contra um aumento que, a posteriori, veio de um modo ou de outro. Pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff fomos às ruas incentivados por eventos criados nas redes sociais. Mas agora, assistimos estoicos ao governo Temer comemorar a passividade do povo, celebrando a ausência de resposta e reação popular ao aumento dos impostos, sob nenhuma manifestação popular, sem pressão das pessoas nas ruas, sem "panelaço" da classe média. Qual a razão?

Enquanto isso, seguem as denúncias contra o presidente Michel Temer, que serão trazidas à votação esta semana, mas o líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE), reforça a tese de que tudo vai ficar bem para o presidente.

Ele disse que os líderes governistas sondaram os deputados sobre eventuais impactos da medida na votação e concluíram que, devido à falta de reações populares, não deverá haver mudanças nos votos pró-Temer.

Acredita-se que esse comportamento, que seria incomum em outros países vizinhos, como Argentina e Uruguai, tenha origem na descrença do brasileiro, que está cansado, exaurido, de lutar e sempre ser vencido pelo sistema, pela máquina pública.

De acordo com o filósofo Fabiano de Abreu:

"Um povo pacato abre brechas para a falta de solução. Entendemos que o cansaço contínuo devido à "metralhadora" de acontecimentos negativos que mexem com o emocional, causa uma desmotivação. Mas devemos entender que sem ação não há consequências, não há resultados e não há mudanças."

Já para a doutora Rosilene Espirito Santo Wagner, os motivos de tal inércia estão ligados a fatores sociais, culturais e históricos, que formaram ao longo do tempo a personalidade e pensamento coletivo do povo brasileiro: "Isso é uma construção cultural.

Estudada há muito por homens letrados, tal qual J.O. De Meira Penna. que genialmente escreveu "Em Berço Esplêndido", que tenta explicar a construção subjetiva e o traço psicológico e o inconsciente coletivo (Carl Jung) que trazemos em nós (sem saber), por vivermos do lado de baixo do Equador. A urgência dos prazeres, a necessidade de estar na rua em busca de algo que preencha a nós mesmo e não a coletividade. E se jeito de ‘dar um jeitinho’, consegue externar a preocupação com o sujeito individual negando a coletividade. Estamos no discurso, mas nem sempre na ação".

O filósofo Leandro Karnal diz que não existe nação corrupta com políticos honestos, e vice-versa. Estaríamos então realmente deitados "em berço esplêndido", por constatar que temos o governo que nos representa e nos reflete, ou pelos motivos sociais e culturais apontados acima? Cabe uma reflexão e carece-se de ação a respeito.