A Adolescência por Calligaris não é um livro com ênfase em técnicas e também não possui uma visão interpretativa meramente simples. Se enquadra em uma linha reflexiva que permite a interpretação provocada pelo autor, que utiliza dos exemplos para melhor demonstração de como o adolescente se sente nessa travessia da puberdade para a vida adulta.

Compreender a adolescência significa mergulhar em uma das formações culturais mais desenvolvidas de nossa época, recheados de tonalidades, charadas e superações. Calligaris parte do pressuposto central de que a adolescência, enquanto um período de moratória na qual um sujeito fisicamente adulto encontra-se impedido, um tanto dissimulado, de entrar na sociedade dos adultos, é principalmente uma criação social relativamente recente devido a necessidade emergente de decifrar além da mística que envolve este fenômeno, seus problemas característicos e aparentemente insolúveis.

Este tempo de maturação que se é imposta aos adolescentes, chamada de moratória, esta que faz com que o adolescente se sinta isolado, não pertencente à sociedade dos adultos. Deste isolamento surgem os grupos com objetivos de buscar novas formas de serem pertencentes na sociedade e nesse contexto surgem grupos de adolescentes com interesses próximos como vestuário, gangues que promovem desordem e crimes, dentre outros. O ato de envolver à um grupo é um modelo de autoafirmação praticada pelo adolescente, para pertencer e ser aceito, e a partir de então se rebela em prática desejos que estão ocultos nos adultos isto é, a liberdade sem culpa.

Portanto, deparamos com o fato inegável onde na adolescência ocorrem transformações visíveis no comportamento dos sujeitos que ali se encontram, se condecorando em uma fase de ampliação do conhecimento, construção de teorias ou reconstrução de teorias existentes, o desejo da diferença e de ser o reformador do mundo.

Em suas tribos, cada adolescente passa por uma fase em que atribui um poder ilimitado ao seu pensamento, isto é, expondo seus pensamentos, na verdade desejam transformar o futuro em algo célebre ou transformar o mundo através de suas compreensões e daí percebe-se a necessidade do se sentir pertencente. O adolescente por sua vez se insere nesse ciclo a partir de projetos e políticas sociais que ele se identifica durante sua trajetória existencial, e o meio sócio cultural em que está inserido.

O desejo é que esta adaptação na sociedade ocorra automaticamente, quando o adolescente, de reformador, passe a transformar-se em realizador. Há por fim, um mundo a ser descoberto e decifrado no íntimo de cada criança e de cada adolescente. É necessário compreensão e motivação para descobri-lo.