O padre Júlio Lancelotti, da paróquia São Miguel Arcanjo, da Arquidiocese de São Paulo, vem sendo acusado em vários momentos por vozes mais conservadoras da Igreja Católica de ir contra o bom comportamento do cristianismo. O padre, de 71 anos, tem dedicado a sua vida a apoiar as pessoas que se encontram em situações mais vulneráveis.

Ao longo de sua trajetória, o padre tem ajudado pessoas em situação de rua, já realizou trabalhos para apoiar pessoas LGBTQI+, pessoas com HIV, além de ter ajudado também jovens encarcerados.

O sacerdote, que é ativista dos diretos humanos, vive constantemente sendo vítima de ameaças e, em um outro momento, chegou até mesmo a ser processado por Jair Bolsonaro, quando o atual presidente ainda era deputado, por tê-lo chamado, durante um discurso, de racista, machista e homofóbico.

No entanto, por mais que já tenha sofrido diversas ameaças, o padre não abre mão de se posicionar politicamente, especialmente em momentos em que é necessário defender as minorias.

Em uma entrevista concedida pelo padre Júlio Lancelotti à revista Veja, ele falou um pouco a respeito de temas como pecado, marxismo e conservadorismo.

Padre fala sobre Bolsonaro e o bolsonarismo

Ao ser questionado a respeito de um vídeo que viralizou na internet, em junho deste ano, do padre Edson Adélio Tagliaferro, da cidade de Artur Nogueira, no interior de São Paulo, onde o religioso aparece dizendo que as pessoas que haviam votado em Bolsonaro deveriam se confessar, pois haviam cometido um pecado, padre Lancelotti deixou claro que acredita que esta linguagem é usada para chamar a atenção das pessoas a respeito da responsabilidade social que os seus atos possam vir a ter.

De acordo com a doutrina católica, como foi explicado pelo padre, para que algo seja considerado como sendo pecado, é necessário que você saiba que é algo errado, e possa optar por fazem isso, mesmo sabendo as consequências que seus atos terão.

"Ninguém virá no confessionário falar que votou no Bolsonaro, mas é necessário entender que as nossas escolhas têm consequências", disse o religioso.

Ao ser questionado a respeito do fato de que muitos católicos votaram em Bolsonaro devido à agenda contra o aborto, o padre deixa claro que, para ele, esta motivação trata-se de uma cortina de fumaça.

Ele garante que as pessoas não estariam pensando de fato no aborto no momento em que votaram. Além disso, o padre ainda pontuou o fato de que, por mais que seja ótimo uma pessoa ser contra o aborto, se esta ação estaria protegendo as mulheres que são violentadas.

Ainda na entrevista, o padre foi questionado por ter recebido ataques, por ter posado em uma foto ao lado de uma mãe de santo e destaca que ele tem o hábito de pedir a benção a todas as mães de santo, e que ele tem como compromisso defender e apoiar as religiões de matriz africana, sem se importar com conteúdo delas.