Segundo dados recentes, o número de desempregados no Brasil aumentou em mais de 2 milhões em 2016. Apesar da aposta de alguns analistas de que a situação deva melhorar a partir do meio do ano, a expectativa é que a taxa de desemprego suba ainda mais antes de começar a cair. Ao todo são 12 milhões de cidadãos fora do mercado de trabalho.
Para além das óbvias implicações salariais e financeiras, o trabalho, na maior parte das vezes, é também considerado um fator de equilíbrio social e psicológico para o indivíduo. Segundo a Associação Americana de Psicologia(APA), as pessoas desempregadas têm o dobro de risco de serem acometidas por depressões, ansiedades, sintomas psicossomáticos e baixa autoestima.
A experiência do desemprego vai muito além da simples falta de ocupação e o sucesso em seu enfrentamento é mais ou menos eficiente dependendo das circunstâncias individuais e ambientais que a pessoa afetada dispõe.
Há algumas fases comuns para quem passa pela experiência do desemprego. Cada uma dessas etapas diz respeito a certos efeitos psicológicos e emocionais derivados decorrentes desta condição.
Fases após a perda de um emprego
De acordo com estudos do professor José Buendía, psicopatogista da universidade de Murcia, na Espanha, sobre o assunto, o primeiro impacto no indivíduo diz respeito a uma sensação difusa de perplexidade, ceticismo e medo que se traduzem em desorientação, auto atribuição de fracasso e dificuldade de fazer planos.
Nesta fase predomina uma brutal confusão e dificuldade de tomar decisões de forma racional.
Em um segundo momento segue a fase conhecida como de recuperação, em que se percebe a perda do emprego como algo temporário. A pessoa chega a não se considerar como desempregada, e sim como se estivesse passando por uma espécie de férias.
Esta fase é marcada por um otimismo irreal.
Se a conjuntura não se modifica, o peso da realidade se impõe e obriga o indivíduo a se desvencilhar de qualquer ilusão sobre sua condição atual. Ele é forçado a lembrar de que não está de férias e é assaltado pelo medo de que sua condição de desemprego se prolongue indefinidamente, então passa a fazer um esforço mais incisivo na busca de emprego.
É aí que começa a obter as primeiras experiências de rejeição. É nesta fase que, não raro, a motivação passa a dar lugar novamente à ansiedade, melancolia, irritabilidade e transtornos psicofisiológicos. Surgem ideias fatalistas e o individuo se vê como um fracasso pessoal e social. Em geral, neste ponto, acaba buscando abrigo no isolamento.
Com a modificação da vida cotidiana, o afastamento social começa a se intensificar em decorrência da vergonha e da insegurança que sente em relação ao julgamento alheio. A capacidade de enfrentamento ativo se enfraquece. A pessoa fica, em diversos casos, suscetível ao alcoolismo e ao consumo de drogas. Nas camadas mais pobres da população os desdobramentos podem assumir contornos ainda mais trágicos.
O desemprego pode resultar em diversas consequências psíquicas danosas para o indivíduo e, por consequência, à sociedade. Tendo em vista a massa de 12 milhões de pessoas que ainda terá de aguardar algum tempo para obter uma recolocação no mercado de trabalho, este assunto deveria ser mais bem debatido sob suas variadas implicações.