A cocaína é um alcaloide tropano presente nas folhas de coca, uma planta sul-americana cujo nome científico é Erythroxylon Coca. Essa planta apresenta melhores condições para seu desenvolvimento em terras argilosas situadas em vales e pequenos planaltos, onde se mantém uma umidade constante e chuva persistente.

Sob essas condições, a coca vive e produz, em média, durante 30 a 40 anos, podendo sobreviver mais de 100 anos, aumentando cada vez mais sua resistência. Curiosamente, a folha de coca apresenta várias propriedades medicinais: é um poderoso anestésico, além de ser utilizado para combater vertigens, estancar sangramentos (devido ao seu caráter vasoconstritor), combater reumatismos e para aliviar a sensação de fome e sede.

Entre suas propriedades nutricionais destacam-se calorias, proteínas, ferro e diversas vitaminas, como A, B1, B2, PP, C e E. Os índios nativos do Peru costumam mascar folhas de coca da mesma maneira que se mascam chicletes, o que resulta em manchas roxas e negras nos dentes.

Como as folhas são muito amargas, é comum eles misturarem a outras substâncias, como o limão. Também é muito comum seu uso em chás, que podem ser encontrados praticamente em todo o país, inclusive nos aeroportos.

O chá tem efeito revigorante superior ao de uma xícara de café. Cada folha média contém apenas de 0,5% a 1% de cocaína alcaloide, quantidade que faz com que seu uso seja até benéfico ao organismo humano, como a cafeína presente em uma xícara de café.

Mas para se produzir a cocaína vendida ilegalmente nas ruas, são necessários toneladas de folhas de coca. E a quantidade de cocaína consumida em uma única dose pode superar a de 1.000 xícaras do chá de coca.

Acelera o metabolismo e faz morrer mais depressa

A cocaína vendida nas ruas das cidades do mundo todo apresenta características sensivelmente diferentes ao produto original.

No intuito de extrair o máximo de cocaína das folhas de coca, laboratórios clandestinos utilizam um processo onde são adicionados diversos produtos químicos como solventes (gasolina, querosene, acetona, amônia, cal), carbonato de sódio e ácido sulfúrico e vários quilos de folhas de coca maceradas.

O produto resultante dessa operação é o sal de cocaína (hidrocloreto de cocaína).

Esse sal é que é chamado popularmente de cocaína nas ruas. Como ele é solúvel, pode ser aspirado ou usado via endovenosa, dissolvido em água.

A cocaína eleva significativamente a quantidade de neurotransmissores do cérebro, como a dopamina e a noradrenalina, porque inibe a sua recaptação pelos neurônios. Assim, todas as funções desses neurotransmissores (que são estimulantes do sistema nervoso central), são consideravelmente potencializadas.

Sua ingestão provoca aumento das atividades motoras e intelectuais, promovendo sensação de euforia e prazer, além de inibir a sensação de cansaço, de falta de apetite e de sonolência.

Fisicamente causa aumento de temperatura e da pressão arterial, taquicardia e dilatação da pupila.

Em grandes doses podem ocorrer sintomas de irritabilidade, agressividade, delírios e alucinações. Já em casos agudos de intoxicação, pode haver convulsões e arritmias ventriculares (o coração bate descompassadamente), e com disfunção respiratória que podem levar à morte.

Se por um lado a cocaína provoca um aumento do consumo de oxigênio, por outra causa a diminuição da capacidade do sistema respiratório de captação de oxigênio. Caso uma pessoa esteja, sem saber, no limite da capacidade de oxigenação no coração, estará correndo risco de precipitar um infarto.

Inalada ou utilizada via endovenosa, o hidrocloreto de cocaína produz efeito imediatos, atingindo diretamente o cérebro sem passar pelo fígado, onde seria degradada se fosse ingerida por via oral.

O uso excessivo em longo prazo provoca invariavelmente múltiplas hemorragias cerebrais e perda progressiva das funções intelectuais superiores. Por acelerar exageradamente o metabolismo, usuários de longo prazo apresentam uma aparência envelhecida em relação a não usuários de mesma idade. Também são comuns síndromes psiquiátricos como depressão profunda e distúrbios dos nervos periféricos (sensação do corpo ser percorrido por insetos).

Os solventes utilizados na preparação da cocaína ajudam a dissolver o septo nasal do usuário de longo tempo. Alguns são obrigados a fazer uma cirurgia de reparação com platina. Por ter propriedade anestésica local, a cocaína em grandes doses pode produzir uma depressão acentuada do sistema nervoso central e causar parada respiratória.

Usuários de cocaína por longos períodos também podem apresentar aneurisma coronariano, alargamento das paredes das artérias coronárias que aumenta a possibilidade de ataque cardíaco. Estudos feitos pela Associação Americana do Coração mostram que isso pode acontecer, inclusive, anos depois dos usuários pararem de usar a droga.

O médico Timothy D. Henry, um dos autores desse estudo, fez uma pesquisa com um grupo de pessoas na faixa de 40 anos, e a conclusão é que a probabilidade de se desenvolver um aneurisma é quatro vezes maior entre os usuários de cocaína. Os aneurismas ocorreram em 30,4% dos usuários de cocaína, comparados com 7,6% dos não usuários.

O risco de ataque cardíaco é maior nas primeiras horas depois do consumo da droga.

Mas como os aneurismas coronarianos geralmente levam anos para se formar, nunca foram associados ao uso da cocaína antes. Bom salientar que não existem tratamentos específicos disponíveis para os aneurismas.

Os aneurismas podem ocorrer em qualquer artéria, mas são mais frequentes no cérebro e na aorta (a principal artéria que leva o sangue do coração ao resto do corpo). Quando os aneurismas se rompem, causam ataques cardíacos e morte súbita.

Uma carreira de veneno

Mas a cocaína das ruas causa ainda maiores riscos pelo fato de ser clandestina. Como não há nenhum controle sobre a venda dessa substância, traficantes misturam diversos outros produtos para que a cocaína renda mais proporcionando assim um maior lucro.

Cal, pós de giz, sal de fruta, cafeína, bicarbonato e até cimento já foram encontrados em analises químicas realizadas com amostras de papelotes de cocaína vendidas nas ruas. E as chances dessa mistureba entupir mais ainda as veias de um usuário crescem sensivelmente.

Em 2001, pesquisas domiciliares espontâneas mostraram que 0,4% da população adulta brasileira consumia a droga pelo menos uma vez ao ano. Em 2005, esse percentual aumentou para 0,7%.

Já o Relatório Mundial sobre drogas de 2015 do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC) mostrou que 1,75% da população adulta no Brasil consome cocaína, enquanto que a média mundial é de 0,4% da população.

A Colômbia responde por 55% de toda cocaína produzida no mundo, seguida pelo Peru com 30% e pela Bolívia com 15%.

A área destinada ao cultivo de coca na Colômbia teve em 2016 crescimento de 52% ante o ano anterior, atingindo 146 mil hectares (o tamanho da cidade de São Paulo).

Esse resultado ocorreu graças a política do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, que decretou o fim da fumigação das áreas de cultivo pelo risco que as substâncias usadas na fumigação causavam à população e pelo acordo de paz assinado com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que exigiam a cessação do uso de pesticidas nas áreas controladas por eles.