Quando uma parte do corpo está funcionando corretamente, pouca ou nenhuma atenção ela chama para si. Por outro lado, quando ela passa a funcionar mal ou não funcionar, uma cirurgia reparadora ou conseguir uma parte substituta através de um transplante pode ser a diferença entre vida e morte. Não é à toa que doações de órgãos e tecidos são muito importantes. No entanto, para a infelicidade de quem precisa de um transplante para sobreviver ou levar uma vida normal, a demanda por órgãos costuma ser bem maior do que a oferta.
Alguns especialistas defendem que um mercado de órgãos poderia ajudar a aumentar a oferta de modo a salvar vidas e propiciar uma qualidade de vida melhor a pessoas doentes, além de poupar gastos com tratamentos e técnicas como a hemodiálise.
No entanto, há dúvidas envolvendo a possibilidade de pessoas muito pobres resolverem vender seus órgãos e de pessoas terem seus órgãos roubados para abastecer esse mercado.
Outra questão é a existência do que parece ser uma intuição moral espalhada pelo mundo de que a doação de órgãos deve ser produto de altruísmo e que dinheiro não deve estar envolvido. Mohammad Akbarpour, professor de economia na famosa Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, contudo, diz que é incoerente que pessoas não possam doar um rim para salvar uma vida em troca de dinheiro, mas possam ser pagas para ser policiais, soldados ou mineiros - ocupações onde a chance de morrer é maior do que em uma operação para doar o órgão (embora o termo pareça fora de lugar quando dinheiro não está envolvido, o termo costuma ser usado mesmo assim em discussões envolvendo transplantes).
Ademais, lembram os defensores da proposta de um mercado para estimular doações, pessoas já vendem seus órgãos (ou os têm arrancados contra a vontade). A diferença é que isso acontece para suprir um mercado negro, longe das proteções legais que as pessoas poderiam ter em um procedimento legal.
Enfim, quer seja boa a ideia ou não, a curto prazo, é quase impossível que uma quantidade significativa de países adote mercados para órgãos.
Não quer dizer que eles não tenham um preço - no mercado negro. A empresa Medical Transcription pesquisou os preços que alguns órgãos alcançam nesse mercado nos Estados Unidos e o resultado é, no mínimo, interessante.
Um par de olhos ficou, quando foi feita a pesquisa, por US$ 1.525 (R$ 4,8 mil). O escalpo alcançou US$ 607 (R$ 1,9 mil).
A artéria coronária ficou pelo mesmo valor do par de olhos. A mão e o antebraço até que formam um conjunto que sai por US$ 385 (R$ 1,2 mil). O estômago e o baço alcançaram meros US$ 508,00 cada (R$ 1,6 mil), mais do que os US$ 337,00 (R$ 1mil) da pinta de sangue (em inglês, pint, unidade de medida pouco maior do que o meio litro). É menos do que os US$ 500 do ombro (R$ 1,6 mil). A vesícula biliar custava US$ 1.219 (R$ 3,8 mil). O coração e o fígado custavam, respectivamente, US$119 mil (R$ 373 mil) e US$ 157 mil (R$ 492 mil).
O rim custava US$ 262 mil (R$ 821 mil). O intestino delgado custava US$ 2.519 (R$ 7,89 mil) . O crânio - com ossos - alcançou US$ 1,2 mil (R$ 3,75 mil). A pele custava US$ 10 (R$ 31,33) por polegada quadrada (cerca de 6,5 centímetros quadrados). Aparentemente, o mais pobre dos homens carrega dentro de si uma pequena fortuna.