Para quem têm menos de 40 anos, são poucas as lembranças, à exceção de livros e vídeos posteriores, sobre a Guerra das Malvinas ou Falklands, entre a Argentina e o Reino Unido que durou de 2 de abril a 14 de junho de 1982 nas Ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul, situadas a cerca de 1.000 quilômetros da Argentina, no Sul gélido do Oceano Atlântico. O arquipélago constitui um dos domínios coloniais britânico desde 1833, e logo que ocupado em 1690, já foi palco de disputas entre ingleses, franceses e espanhóis e por último entre o Reino Unido e a Argentina que por ter sido colonizada pela Espanha se considera herdeira legal das ilhas.


Por outro lado, como o próprio título do artigo sugere, qual foi a participação do Brasil no conflito entre os nossos "hermanos" argentinos e ingleses; o Governo brasileiro se envolveu de algum modo, tudo não passou de boataria ou adotou posição neutra buscando o fim pacífico do conflito? Para entender melhor os questionamentos, vamos para a cidade do interior do Estado de São Paulo, São José dos Campos, onde fica a sede da fábrica da Embraer, produtora de aviões - inclusive do tipo militar. Muitos países adquiriram aviões militares do Brasil e segundo observadores internacionais e especialistas militares, os modelos P-95, o Bandeirulha, versão militar do EMB-111 Bandeirante, esteve em ações na Guerra das Malvinas, reforçando a Fuerza Aérea Argentina.


A Argentina tinha aviões S-2E Tracker e P-2 Neptune fazendo o patrulhamento aéreo da zona de conflito, caçando navios da marinha britânica, mas após um mês de guerra, as forças argentinas tiveram as suas primeiras baixas significativas e os ingleses estavam quase recuperando as ilhas. Como agravante a Argentina, devido ao embargo internacional da OTAN no final da década de 1970, estava proibida de comprar armamentos, restando ao país recorrer à fontes clandestinas de armas e paralelamente conseguiu alugar dois P-95 e 11 jatos Xavantes da FAB. O Bandeirulha foi acionado no ápice da guerra em maio de 1982. Os modelos adotaram novas matrículas, foram pintados com as cores de camuflagem cinza escuro do Esquadrão de Vigilância e Patrulhamento Marítimo da Força Aérea Argentina e as duas aeronaves alternaram turnos de patrulhamento com o Neptune argentino.


O governo inglês em função do ocorrido convocou o Embaixador do Brasil em Londres, Roberto Campos, para prestar explicações. Campos ratificou posição neutra do Brasil na disputa e até ofereceu emprestar dois P-95 e 11 Xavantes ao Reino Unido, se assim desejasse. Alguns tablóides ingleses sempre desconfiaram do assunto a ponto de afirmarem que os Bandeirulhas usados nas Falklands eram pilotados por membros da Força Aérea Brasileira, acostumados com a aeronave e seus equipamentos de controle bélico e que não haveria tempo de sobra para treinar os argentinos no avião da Embraer com a guerra em andamento. O Brasil não respondeu a estas especulações britânicas.


O Reino Unido recuperou as ilhas geladas com a morte de 649 soldados argentinos, 255 britânicos e 3 civis das ilhas; a Junta Militar que governava a Argentina caiu e se restaurou um governo democrático; a vitória inglesa fez com que a Conservadora Margaret Thatcher obtivesse a vitória nas eleições de 1983. Todavia, podemos afirmar que o saldo de tudo isto foi negativo para os argentinos, ingleses e até brasileiros, uma vez que absolutamente nada valida a morte de seres humanos pela obsessão cega e corrupta de governos e lideranças políticas.