O mundo das notícias é complexo, e histórias e imagens falsas costumam ser amplamente compartilhadas nas redes sociais. A equipe editorial da Blasting News identifica as informações enganosas e as fraudes mais populares toda semana para ajudá-lo a entender o que é verdade e o que é mentira. Aqui estão alguns dos boatos falsos mais compartilhados da semana.
Mundo
Governo francês não anunciou bloqueio da internet em meio a tumultos
Alegação falsa: Em meio à série de protestos violentos ocorridos na França após um jovem de 17 anos ser baleado e morto por um policial por se negar a parar em uma blitz em Nanterre, na periferia de Paris, usuários das redes sociais ao redor do mundo compartilharam um suposto comunicado oficial do Ministério do Interior francês anunciando “restrições temporárias” ao acesso à internet em "bairros específicos" durante o período da noite para “prevenir qualquer forma de violência e perturbação”.
Verdade:
- Na manhã do último dia 2 de julho, o Ministério do Interior francês publicou um comunicado oficial em seu perfil no Twitter afirmando que o documento que circula nas redes sociais é falso e que nenhuma decisão sobre a restrição do acesso à internet foi tomada pela pasta.
- A falsa alegação também foi desmentida pelo Ministério das Relações Exteriores francês em uma publicação em seu perfil no Twitter na manhã do último dia 3.
- Uma busca no site do Ministério do Interior francês não encontra nenhum comunicado oficial anunciando a supostas restrições ao acesso à internet no país.
- Na última terça-feira (4), no entanto, durante uma reunião com prefeitos de mais de 250 cidades afetadas pelos recentes protestos, o presidente francês Emmanuel Macron acusou redes sociais como Snapchat, TikTok e Telegram de contribuírem para os distúrbios no país e que o governo analisa a possibilidade de suspender temporariamente algumas funções dessas plataformas.
- Em 4 de julho, durante uma reunião com mais de 250 prefeitos de cidades francesas afetadas pela violência em curso, o presidente francês Emmanuel Macron acusou plataformas de mídia social como Snapchat, TikTok e Telegram de contribuir para a agitação no país e sugeriu: “Precisamos pensar sobre como os jovens usam as redes sociais, na família, na escola, as interdições que devem existir (...) e quando as coisas saírem do controle, talvez tenhamos que regulá-las ou cortá-las”. Na quarta-feira, no entanto, os ministros do governo insistiram que Macron não estava ameaçando um “apagão geral”, mas sim uma suspensão temporária de algumas funções dessas plataformas.
Mais sobre os protestos na França
Além do falso comunicado anunciando restrições ao acesso à internet, usuários das redes sociais também compartilharam uma série de imagens que supostamente estariam ligadas aos recentes protestos registrados na França.
Incêndio em biblioteca
Alegação falsa: Uma das imagens mostra um prédio em chamadas, junto da alegação de que manifestantes teriam incendiado “a maior biblioteca na França”.
Verdade: Uma busca reversa na internet mostra que o prédio que aparece nas imagens compartilhadas nas redes sociais, na verdade, e o da agência central dos correios em Manila, nas Filipinas, que pegou fogo no último mês de maio, deixando sete pessoas feridas.
Animais selvagens nas ruas
Alegação falsa: Publicações compartilharam vídeos de animais selvagens – como elefantes, avestruzes, zebras, leões e rinocerontes – caminhando pelas ruas, junto da alegação de que eles teriam sido soltos de um zoológico francês por manifestantes.
Verdade: Uma busca reversa na internet mostra que todas as imagens dos animais selvagens foram publicadas originalmente nas redes sociais anteriormente aos protestos recentes, muitas delas, inclusive, mostram cenas que ocorreram fora da França, em países como China, Japão, República Tcheca, Nepal, Alemanha e Inglaterra.
Roubo a loja da Louis Vuitton em Paris
Alegação falsa: Um vídeo que mostra uma multidão invadindo uma loja da marca de luxo Louis Vuitton foi compartilhado junto da alegação de que as imagens mostrariam manifestantes roubando a loja, supostamente em Paris.
Verdade: Uma busca reversa na internet mostra que o vídeo circula na internet desde maio de 2020 e mostra um grupo de manifestantes na cidade americana de Portland, após o assassinato de George Floyd.
Mundo
Nasa não alertou que tempestade solar pode causar um “apocalipse da internet”
Alegação falsa: Usuários das redes sociais ao redor do mundo compartilharam a alegação de que a Nasa teria emitido um alerta informando sobre a possibilidade de uma futura tempestade solar causar um “apocalipse da internet”, deixando as pessoas sem conexão por meses. Algumas das publicações atribuem a informação a um suposto descoberta feita pela Sonda Solar Parker, da Nasa.
Verdade:
- Lançada em 12 de agosto de 2018, a Sonda Solar Parker tem como missão, segundo a Nasa, expandir nosso conhecimento sobre a origem e a evolução dos ventos solares, viajando mais perto da superfície do Sol do que qualquer outra espaçonave antes dela.
- Um dos alertas que a Nasa faz em sua página sobre a missão da Sonda Solar Parker é que alterações no vento solar podem “alterar as órbitas dos satélites, reduzir sua vida útil ou interferir nos componentes eletrônicos a bordo”.
- A Nasa, no entanto, não faz nenhum alerta para um suposto “apocalipse da internet” causado por tempestades solares em suas páginas e documentos sobre a missão da Sonda Solar Parker, ou de fato em qualquer outro espaço em seu site ou em seus perfis nas redes sociais.
- Segundo dados publicados pela Nasa e pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, a comunidade científica está ciente há tempos de que os ciclos de atividade solar costumam durar cerca de 11 anos, com o último ponto de atividade mínima tendo ocorrido em dezembro de 2019 e o próximo pico – chamado de Ciclo Solar 25 – previsto para 2025.
- "Embora não estejamos prevendo um Ciclo Solar 25 particularmente ativo, erupções violentas do Sol podem ocorrer a qualquer momento", disse Doug Biesecker, Ph.D., físico solar do Centro de Previsão do Tempo Espacial da NOAA, em um relatório publicado no site da NOAA.
EUA
Não há evidências de que atrazina na água esteja levando crianças a se identificarem como transgênero
Alegação falsa: Usuários das redes sociais nos EUA compartilharam um vídeo no qual o ativista antivacina e candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos Robert F.
Kennedy Jr. faz a seguinte afirmação durante uma entrevista: “Acho que muitos dos problemas que vemos nas crianças, especialmente nos meninos, provavelmente são subestimados em relação à exposição a produtos químicos, incluindo grande parte da disforia sexual que estamos vendo”. O político então faz referência a um estudo segundo o qual a inserção do herbicida atrazina na água levou sapos machos a se tornassem inférteis e desenvolverem órgãos sexuais femininos, concluindo: “Se está fazendo isso com os sapos, há muitas outras evidências de que também está fazendo isso com os seres humanos”.
Verdade:
- Primeiramente, ao contrário do que Robert F. Kennedy afirma em sua fala, o termo médico correto é “disforia de gênero”, e não “disforia sexual”. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria, disforia de gênero é o “sofrimento psicológico resultante de uma incongruência entre o sexo designado no nascimento e a identidade de gênero” e não representa um transtorno mental.
- Criada em 1958, a atrazina é um herbicida que vem sendo amplamente utilizado há décadas em plantações de milho, soja, arroz e algodão para o controle de ervas daninhas, sendo, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA, o segundo herbicida mais utilizado no país, ficando atrás apenas do glifosato.
- Apesar de pesquisas sugerirem que a exposição à atrazina pode causar em seres humanos de problemas reprodutivos, a doenças renais e aumento do índice de massa corporal, não há nenhum estudo em humanos que demonstre qualquer ligação entre exposição à atrazina e disforia de gênero.
- Em declarações à agência de checagem de fatos americana Politifact, Tyrone B. Hayes, autor do estudo com sapos citados por Kennedy e professor do Departamento de Biologia Integrativa da Universidade da Califórnia, afirmou que as profundas diferenças entre anfíbios e humanos não permitem fazer a mesma alegação que o político. “Isso é especulação", disse.
Europa
É mentira que ex-observadora da OSCE revelou rede de laboratórios secretos na Ucrânia para o tráfico de órgãos infantis
Alegação falsa: Usuários das redes sociais em países da Europa compartilharam um vídeo no qual uma suposta ex-observadora da Missão de Monitoramento Humanitário da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) chamada Vera Vaiman afirma ter encontrado evidências entre 2019 e 2022 da existência de uma rede de laboratórios secretos na Ucrânia nos quais os órgãos de crianças eram retirados para serem vendidos no mercado negro.
Além da entrevista com Vera Vaiman, o vídeo traz imagens de um médico em uma sala de cirurgia colocando um saco plástico com o que parece ser um órgão humano em uma caixa refrigerada com as palavras “Human Organ for Transplantation” (Órgão Humano para Transplante).
Verdade:
- Uma busca reversa na internet mostra que o vídeo foi publicado originalmente no último dia 9 de junho por um perfil do YouTube e Telegram chamado Россия - это я! (Rússia - sou eu!, em tradução livre), famoso por promover propaganda pró-Kremlin.
- Em declarações à agência de checagem de fatos tcheca Demagog, um porta-voz da OSCE afirmou que nenhuma pessoa chamada Vera Vaiman (ou Vera Nikulina, como algumas postagens destacaram que ela costumava se chamar) foi funcionária da organização.
- Uma busca no site da OSCE mostra que não há nenhum relatório que comprove a suposta existência de laboratórios secretos na Ucrânia para o tráfico de órgãos infantis.
- Com relação à imagem do médico que aparece no vídeo, a caixa refrigerada traz o logo do Instituto do Coração (Інститут херта, em ucraniano), hospital em Kiev que é referência em cardiologia e cirurgias cardíacas.
- As mesmas imagens podem ser encontradas em um vídeo publicado no último dia 23 de dezembro no perfil do YouTube do cirurgião cardíaco ucraniano Boiys Todurov, diretor do Instituto do Coração. Em declarações à agência AFP, Todurov disse que as imagens mostram ele realizando um transplante no hospital.