O presidente Jair Bolsonaro (PSL) soltou uma frase polêmica nesta segunda-feira (29) ao se referir ao presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a forma como a entidade tem se comportado perante as investigações sobre o ataque a faca cometido por Adélio Bispo ainda durante a corrida presidencial.

Em tom ríspido, Bolsonaro disparou contra o pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, desaparecido em fevereiro de 1974, durante o período da ditadura militar (1964-1985). Fernando foi preso no Rio de Janeiro junto de um amigo, Eduardo Collier, por agentes do DOI-Codi.

'Eu conto', diz Bolsonaro sobre desaparecimento

Durante sua fala à imprensa, Bolsonaro teceu críticas à OAB, mas o principal alvo foi o presidente Felipe Santa Cruz, mais especificamente seu pai. Bolsonaro disse que, caso o presidente da OAB desejasse saber como se deu o desaparecimento da morte do pai, ele contaria, complementando que Felipe não gostaria nada de ouvir o que ele classificou como verdade.

Jair Bolsonaro, no entanto, fez ressalva e disse que não é uma versão dele, mas sim a vivência que ele teve e o levou a chegar nas conclusões às quais chegou. De acordo com Bolsonaro, Fernando seria integrante da Ação Popular, grupo que o presidente classificou como "mais sanguinário e violento da guerrilha" em Pernambuco.

Fernando era estudante de direito e trabalhava no Departamento de Águas e Energia Elétrica em São Paulo. Além disso, integrava a Ação Popular Marxista-Leninista e já era pai, embora Felipe tivesse apenas dois anos de idade quando o pai foi dado como desaparecido.

Não integrava a luta armada

Segundo relatório da Comissão da Verdade, que tinha como responsabilidade averiguar e investigar os casos de morte política durante a Ditadura Militar, não há qualquer registro formal de que Fernando tenha participado de lutas armadas durante o regime.

De acordo com o próprio documento, Fernando possuía endereço e emprego fixo, portanto, não estava sequer clandestino no país ou ainda foragido dos órgãos de segurança da época.

Doria repudia fala de Bolsonaro

João Doria, governador de São Paulo, repudiou a fala de Jair Bolsonaro. O tucano disse ser inaceitável a declaração do presidente e que não ficaria calado, uma vez que teve um pai cassado pela ditadura e viveu anos no exílio. Em seu pronunciamento, Doria ainda chamou a declaração de "infeliz"