Ao andar pelo centro histórico da cidade de São Paulo, infelizmente, o que chama mais atenção é a grande quantidade de invasões em diversos prédios históricos e, ao se deparar com isso, nos dá a nítida sensação de que é um processo irreversível. No entanto, o centro foi testemunha de que nada é impossível em se tratando de invasões, mas muitas delas podem deixar marcas que não se apagam.

Quando foi construído, na década de 1920 e inaugurado em 1929, o Edifício Martinelli, durante décadas foi considerado o maior arranha-céu do país, até o surgimento do Terraço Itália em 1965, na Avenida São Luis.

Idealizado pelo Conde Giuseppe Martinelli, ele surgiu para conferir para a cidade um ar de uma grande cidade cosmopolita, de modernidade e assim permaneceu como simbolo de luxo e ostentação. Seu intuito era servir de moradia e comércio, assim que foi inaugurado, parte da elite paulistana foi ali morar e sua saída era na Rua Libero Badaró, e o em uma ala comercial, com saída para a Rua São Bento, além de abrigar um luxuoso cinema, o Rosário. Sem contar que o próprio Conde Martinelli, mandou construir uma casa na cobertura do edifício, onde morava com a família.

No entanto, apesar das boas intenções, o Conde não pagou o prédio e assim teve que financiá-lo com uma empresa italiana. Logo em seguida, vieram os tempos difíceis da segunda guerra mundial.

Foi nesse período que a União tomou o prédio que passou a ser conhecido como Edifício América. Com a decadência do centro, os aluguéis ficaram baratos e daí houve uma mudança radical dos moradores: saiu a elite e entraram as classes mais baixas e virou um ponto de prostituição com um cabaré no subsolo. O fato é que ir no Martinelli nos anos 50 era se deparar com uma favela vertical.

Nesse período, diversas mortes por assassinato lá ocorreram. Um deles ocorreu em 1947, quando o garoto judeu Davidson foi estrangulado e jogado no poço do elevador. Já nos anos 1960, uma menor, Márcia Tereza, foi estuprada por cinco homens e morta em um dos apartamentos. O fato é que, por muito pouco, diante da má fama, o prédio foi demolido.

Isso somente não ocorreu porque o então prefeito de São Paulo, Olavo Setúbal, já nos anos 1970 decidiu entrar com um processo de revitalização para recuperar os tempos de glória do Edifício. Para isso, instalou diversos órgãos da Prefeitura. Nessa ocasião encontraram no poço do elevador diversos ossos de mortos.

Passados 40 anos, o prédio, se não resgatou seus tempos glamourosos, ao menos, virou um importante endereço com seus escritórios de secretarias municipais, escritórios de advocacia e outros serviços. No entanto, para muitos, depois de tantas tragédias que lá ocorreram, ficou um prédio marcado. Tanto que diversos funcionários relatam que, frequentemente, ouvem vozes e que tem alguns andares em que há muita dificuldade de alugar. Será que ocorreu com o Martinelli, aquele velho adágio, em que o vaso uma vez quebrado, ao ser recomposto jamais será o mesmo?