Ao vermos um saxofone, logo relacionamos esse instrumento ao jazz. Mas, na verdade, o sax, mais especificamente o sax-tenor, demorou a ganhar o destaque que tem atualmente.

Se levarmos em conta que teóricos datam o início do jazz em 1890 com o ragtime, o sax apenas na década de 1930, com o surgimento do swing, ganha a função de solista num grupo jazzístico.

Nos estilos iniciais do jazz (ragtime, new orleans e dixieland), o saxofone quase não fazia parte dos grupos musicais. A parte rítmica ficava a cargo do banjo, do piano, do baixo-tuba, do washboard (as famosas tábuas de lavar roupas) e das caixas, e os destaques eram a clarineta, o pistão e o trombone.

Nesse contexto, havia apenas uma exceção: Sydney Bechet, músico natural de Nova Orleans, um exímio clarinetista, que fez do sax-soprano seu principal instrumento. Pode-se dizer que o uso do sax-soprano no jazz começou com ele, que se tornou referência nesse instrumento até hoje.

O saxofone ganha nova força

Os primeiros naipes de saxofone nos grupos só começaram a aparecer em meados dos anos 1920, com a ida dos músicos do estilo New Orleans a Chicago. Inicialmente, o sax servia de apoio para os instrumentos de frente, soava em sobreposição de vozes, formando uma parede harmônica.

O músico responsável em tirar o saxofone desse papel secundário foi Coleman Hawkins. Natural do Missoure, nasceu em 21 de novembro de 1904, na cidade de Saint Joseph.

Iniciou-se na música desde cedo: aos cinco anos estudou piano e violoncelo e aos nove começou no sax-tenor. No final de 1922, aos 18 anos, desembarcou em Nova York com o grupo que acompanhava a cantora de blues Mamma Smith.

No ano seguinte, entraria na Fletcher Henderson Orchestra, considerada a primeira orquestra de jazz, com a qual realizaria, em 1926, duas importantes e históricas gravações: Stampede e It's the talk of the town, a primeira balada do jazz segundo vários estudiosos.

Coleman Hawkins foi um exímio solista e improvisador. Praticamente criou as diretrizes da arte de improvisar um tema, fosse um blues ou uma canção popular. Tinha grande conhecimento de encadeamento de acordes e de harmonia, que, aliado a suas pesquisas sobre o desenvolvimento da técnica no instrumento, lhe garantia o posto do músico número um no sax-tenor.

Hawks tirava de seu sax-tenor um som robusto, volumoso e agressivo. Sua interpretação era expansiva. Nos andamentos rápidos, com encadeamentos harmônicos mais complexos, seus solos eram agressivos; já em passagens lentas, mostrava o legado do blues quando acompanhava a cantora Mamma Smith, apresentando solos chorosos, com um quê de sensualidade.

O músico desenvolveu técnicas inovadoras de staccato e touguing no instrumento, o que lhe conferiu na época o status de melhor tenorista do jazz. Sua fama e competência renderam-lhe excursões pela Europa por cinco anos consecutivos, de 1934 a 1939. Ao retornar aos Estados Unidos, em 1939, gravou a música Body and soul, seu maior sucesso comercial. Essa gravação é, até hoje, um dos discos mais vendidos do jazz.

Coleman Hawkins também se rendeu à bossa nova, gravando, em 1963, o disco intitulado Desafinado, contendo alguns dos sucessos do gênero brasileiro, como “Desafinado”, “Samba de uma nota só" e "O pato".

Morreu em 19 de maio de 1969, em Nova York, sendo considerado por muitos especialistas “o pai do sax-tenor”.

Ouvidos atentos para:

Hawk Flies High (1957, Riverside Records); Encounters Ben Webster (1959, Verve Records. Com Ray Bryant (p), Oscar Peterson (p), Herb Ellis (g), Ray Brown (b), Alvin Stoller (d); The Hawk in Hi Fi (1956, RCA Victor); Desafinado: bossa nova & jazz (1963, Impulse).