Em seu discurso de diplomação como presidente da República, no dia 10 de dezembro, Jair Bolsonaro deu destaque ao fato de o poder público não necessitar mais de intermediação. De acordo com o que comentou Bolsonaro, foi estabelecida uma ligação direta entre o eleitor e os representantes do povo.

O Jornal O Globo da última segunda-feira (4) fez uma análise das redes sociais no período entre a eleição até os últimos dias. O resultado mostrou que esta conexão direta tem influenciado medidas do Governo Bolsonaro.

Talvez o caso mais emblemático, até agora, da influência das redes sociais no novo governo, tenha acontecido na última quinta-feira, quando a base de apoio do presidente no Twitter e Facebook pressionou Jair Bolsonaro para que fizesse com que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, exonerasse a cientista política Ilona Szabó do cargo de suplente no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP).

Szabó é a diretora do Instituto Igarapé. O Instituto realiza estudos na área de segurança pública, mas para a base de apoio de Bolsonaro nas redes sociais, a cientista política é meramente uma opositora da flexibilização da posse de armas.

A última semana também testemunhou o recuo do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, em pedir que diretores de escolas (públicas ou particulares) lessem o slogan de campanha de Jair Bolsonaro para os estudantes antes de cerimônia em que os alunos deveriam cantar o hino nacional.

Reações nas redes sociais

Como constatado pela startup Arquimedes, por meio de um índice que mede a percepção das redes sociais, além dos casos supracitados, pelo menos em outras cinco vezes ocorreram episódios que demonstraram que manifestações no Facebook e Twitter coincidiram com recuos adotados pelo governo.

A metodologia da startup consiste em analisar o conteúdo das publicações, quantificar os compartilhamentos e classificar a repercussão de zero a cem.

Pedro Bruzzi, fundador da startup e ex-integrante da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da FGV, alega que existe um padrão.

Quando o índice da Arquimedes está abaixo de 30 em determinada polêmica, o governo pode reavaliar sua atuação, porém, quando este índice está acima de 30, não muda nada.

Dois outros especialistas, que não tiveram acesso ao estudo da Arquimedes, são unânimes ao afirmar que o governo age influenciado pelas redes sociais.

Para Pablo Ortollado, professor da USP e também coordenador do Monitor de Debate Político no Meio Digital, o governo é sensível à pressão exercida pelas redes sociais, pois, tem consciência de que foi eleito por causa delas.

Fabio Macini, do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espirito Santo, diz que se o governo sofre pesada pressão nas redes sociais, a assessoria e Carlos Bolsonaro dão o alerta, e o governo estuda possíveis recuos.