O que podemos traçar hoje como influências primárias do rock etiquetado como rock psicodélico são talvez as mesmas que apontariam os conhecedores do assunto para o rock em geral, tendo revisitado não só o passado, como arriscado ditar elementos que iam além do futuro da música, os grupos que formaram e desenvolveram o estilo se estabeleceram na história e continuam a atrair ouvidos atentos por boa parte do globo.

Posso afirmar com certeza que seria muito mais fácil escrever de forma resumida alguns elementos do gênero em questão e descrever suas características ignorando o leque infinito de variantes e possibilidades de uma realidade musical tão ampla e abrangente como o rock psicodélico.

Porém, em vez disso, essa pesquisa vem para tentar apontar e discutir alguns pontos definitivos para o nascimento da leva irreparável de bandas e artistas que assumiram papel fundamental na criação da psicodelia.

O termo e as referências temáticas da subcultura que vinha se desenvolvendo no meio da década de 1960 eram fruto da experiência ocasionada pelo uso de substâncias alucinógenas de efeito psicoativo, sendo a mais comum o LSD. A partir disso, as bandas desenvolveram um atributo sonoro em comum, que consistia principalmente na experimentação.

Nascimento de um gênero eterno

O estilo que se desenvolvera no final dos anos 50 e foi extremamente popular no início da década de 60, a chamada surf music, também teve seu papel de grande relevância na fundação do gênero na qual dedico este artigo, já que desde alguns anos antes, artistas como Link Wray, conhecido pela famosa "Rumble" (1958), e Dick Dale, celebrado mundialmente pela sua técnica, como também pelo clássico "Misirlou" (1962), faziam uso da distorção nas guitarras e abusavam dessa possibilidade em suas gravações e apresentações.

Desse contexto, surgiram também os The Ventures, em 1958, banda de rock instrumental vinda de Tacoma, Washington, nos Estados Unidos, que foi fundamental na popularização da guitarra elétrica e influenciou parâmetros importantes na fundação do rock psicodélico.

O lançamento do primeiro disco dos 13th Floor Elevators foi um ponto importantíssimo nessa história.

Em 1966 saía o primeiro de três LPs da carreira da banda texana, "The Psychedelic Sounds Of The 13th Floor Elevators", registro que seria um dos pilares do gênero futuramente. Lançado após a gravadora Contact Records ter um bom retorno do single "You're Gonna Miss Me", um grande expoente do rock de garagem sessentista, que chegou a posição 55 nas paradas da Billboard, tendo "Tried To Hide" como lado B, foi o mais próximo de um hit que a banda teve.

Engraçado como muitas vezes a essência de algo se manifesta na sua melhor forma quando ainda está em estado de aperfeiçoamento. Isso vale também para o clássico que daria seguimento a discografia do grupo, "Easter Everywhere" (1967), dessa vez, mesmo ainda longe do sucesso comercial, influenciou diversos artistas e bandas que vieram depois.

Inclusive, o grupo também foi influente no desenvolvimento do chamado som de São Francisco, termo que se refere a Música gravada ou tocada ao vivo durante a metade dos anos 60 até o começo dos anos 70 por bandas da região que eram associadas a contracultura e a comunidade hippie ali em plena formação, já que fizeram uma turnê antes de retornar ao Texas e gravar seu segundo álbum, onde tiveram a oportunidade de se apresentar no Fillmore e no Avalon, importantes casas de show que acolheram essa nova comunidade embrionária.

Esse som era até então característica marcante das apresentações ao vivo do grupo Jefferson Airplane.

Enquanto a música folk tinha um momento de ascensão dentro do nicho dos envolvidos na Beat Generation, movimento literário antecessor da filosofia hippie, um novo som pulsante se desenvolvia nos festivais e apresentações gratuitas de São Francisco, longe do cinismo e melancolia dos Beatniks, os hippies, segundo o empresário da banda Grateful Dead, Jon McIntire, trouxeram uma projeção de alegria para o cenário artístico como a sua grande contribuição.

Fazendo apresentações gratuitas no Golden Gate Park e promovendo eventos pela cidade, os agentes do movimento começaram a desenvolver algo muito próprio e único, momento importante para a criação do que seria a identidade da cena, afinal, até esse período, segundo o historiador de São Francisco, Charles Perry, era comum participar de festas noturnas na Haight-Ashbury, coração do movimento hippie em formação, e só ouvir o "Rubber Soul" (1965) dos Beatles pela noite inteira.

Nesses anos, de fato as bandas eram fortemente influenciadas pelos Beatles, afinal, para muitos, eles começaram a tradição psicodélica com o clássico álbum citado anteriormente e seu sucessor "Revolver" (1966), discos revolucionários em questão de experimentação, texturas, timbres, instrumentação e o formato das músicas. Também por terem mais tempo em estúdio, John e Paul tomaram a liberdade de experimentar com o que achassem necessário, contando também com uma contribuição maior de George dessa vez, já que pela primeira vez na história da banda haviam três músicas de sua autoria em um álbum. Além disso, eles fizeram seu último show ao vivo pago no Candlestick Park em 29 de agosto de 1966 em São Francisco, antes de gravarem sua obra-prima (pelo menos uma delas), "Revolver", fato marcante para essa nova fase da banda.

Havia também outras influências, de diferentes fontes, para as bandas da região, não apenas da invasão britânica que acontecia, mas também da cena Soul em Detroit, do blues em Chicago, da música folk americana dos anos 50 e 60 e das várias formas de jazz, sendo que muitos músicos de São Francisco citavam Mccoy Tyner, John Coltrane, Miles Davis e companhia como referências.

Pouco antes, Bob Dylan havia começado seu período "elétrico", a partir de sua primeira apresentação explorando esse novo formato, que ocorreu no dia 25 de julho de 1965 no Newport Folk Festival, com Mike Bloomfiled (guitarra) e Garry Goldenberg, ambos integrantes do grupo Paul Butterfield Blues Band, ele continuou a explorar os ares antes inexplorados em sua carreira.

Em turnês nos anos de 1965 e 1966, já tendo o The Hawks como banda de apoio, ele prosseguiu causando controvérsias entre os públicos puristas, desaguando assim em um período único de sua trajetória, lançando os albuns "Highway 61 Revisited" (1965) e "Blonde On Blonde" (1966), marcos irreparáveis para a música.

Seguindo os passos de Dylan, outros grupos que aderiram uma espécie de estética folk adotaram instrumentação elétrica, entre eles, Buffalo Springfield, o grupo de Los Angeles que se formava na época e tinha como um de seus membros, Neil Young, além de terem sido grandes expoentes para a criação do folk rock e influenciadores da música psicodélica, junto dos contemporâneos do grupo californiano The Byrds.

Em 1967, nos dias 16, 17 e 18 de junho, aconteceu o Monterey Pop Festival, lembrado por sua relevância para toda a cena e diversos momentos históricos ali presenciados, como a primeira grande aparição para um público americano da The Jimi Hendrix Experience, que nesse ano fazia sua grande estreia com o fenomenal "Are You Experienced", The Who e Otis Redding, além de colocar bandas da cena a exatos 187 km de distância, frutos da Baía de São Francisco (sendo alguns também de Los Angeles e região), lado a lado com nomes reverenciados da música, dentre elas, The Byrds, Jefferson Airplane, The Paul Butterfield Blues Band, Quicksilver Messenger Service, Canned Heat, Big Brother and The Holding Company com Janis Joplin, Grateful Dead, The Mamas and The Papas, entre outras atrações.

Para muitos, inclusive Jann Wenner da revista Rolling Stone, o festival marcou o nexo entre o que os Beatles começaram e a definição do que se seguiu, contendo performances revolucionárias.

Do outro lado do Atlântico já haviam repostas ao movimento que borbulhava nos Estados Unidos, grupos marcantes como Cream definiram o estilo também com seus álbuns "Disraeli Gears", (1967), "Wheels Of Fire" (1968) e serviram de referência para seus sucessores, sendo um deles, Jimi Hendrix, que após ser descoberto pela modelo Linda Keith, na época, namorada de Keith Richards, tocando em um clube de Nova Iorque, só aceitou ir com o empresário Chas Chandler (ex-baixista do The Animals) para a Europa com a condição de conhecer Eric Clapton enquanto estivesse em Londres.

Houve grandes lançamentos nos anos seguintes, o "Surrealistic Pillow" (1967) de Jefferson Airplane, primeiro album com Grace Slick nos vocais, tem clássicos como "Somebody To Love" e "White Rabbit", se tornaria um dos primeiros trabalhos psicodélicos a serem lançados. Discos memoráveis pelo Grateful Dead, como "Anthem Of The Sun" (1968) e "American Beauty" (1970), mais conhecidos pelos inesquecíveis shows ao vivo, a banda conquistou um status que nenhuma outra viria a alcançar, fãs que os acompanhavam em turnês, abandonando a vida conformada seguida a risca por anos e anos, gerações e gerações, os Deadheads (como eram chamados), faziam seus trabalhos manuais, alguns artesanatos, outros apenas apreciavam a viagem, mas todos em comunhão para ver a banda que proporcionaria um evento único em suas vidas, fora do esperado e quebrando barreiras noite após noite.

O incrível "Stand" do grupo Sly And The Family Stone (1969), continha traços de experimentação e da face psicodélica da banda muito claros, juntamente do funk, soul e R&B únicos de Sly Stone e uma instrumentação simplesmente perfeita.

O auto-intitulado da banda californiana It´s a Beautiful Day (1969), esse certamente ousando na direção do folk muitas vezes, rendeu o maior hit da banda, "White Bird", cheio de momentos lindos pelo álbum, espalhados sofisticadamente por músicas muito diferentes do que estava rolando.