Os senadores da CPI da Covid ficaram impressionados com a postura do presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres.

Amigo e aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o contra-almirante da Marinha, em seu depoimento na terça-feira (11), deixou clara sua postura contrária às ações tomadas pelo Governo federal na gestão da pandemia.

Se em algum momento os funcionários da Anvisa ficaram receosos de que haveria interferência política na agência com a entrada de Barra Torres em 2019, o militar deu um grande indicativo de que não compactua com a postura negacionista da ciência do presidente da República.

Destemido

Sem medo de desagradar o líder do Executivo, o presidente da Anvisa confirmou em seu depoimento o que foi relatado por outro depoente na comissão parlamentar de inquérito que investiga ações e eventuais omissões do governo na gestão da pandemia, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.

Em seu depoimento, Mandetta afirmou que em seu período como comandante da pasta da Saúde participou de uma reunião em que foi levantada a possibilidade de que fosse colocado na bula da cloroquina que o medicamento é recomendado para o tratamento da Covid-19. O próprio ex-ministro relatou que foi Barra Torres quem não aceitou que o remédio sem comprovação científica no combate ao coronavírus fosse colocado como sendo eficaz para tratar a Covid-19.

Antônio Barra Torres ainda relatou que reagiu de maneira "deseducada" quando, em uma reunião organizada pelo então ministro da Casa Civil, Walter Braga Neto, ouviu da médica Nise Yamaguchi, que não integra o governo federal, que a cloroquina tem resultados positivos no tratamento da Covid-19.

Barra Torres confessa ter se exaltado no encontro ao ouvir a sugestão e ressaltou aos senadores que somente a Anvisa tem o poder de alterar a bula de um remédio.

Com os depoimentos de Mandetta e Barra Torres, uma das linhas de investigação da CPI da Covid, a de que o presidente da República se aconselhava com pessoas de fora do Ministério da Saúde e não ouvia os próprios ministros da pasta, ganha mais robustez.

Assim como Luiz Henrique Mandetta, o presidente da Anvisa disse desconhecer quem seriam as pessoas de fora do Ministério da Saúde que estariam aconselhando Bolsonaro.

Quanta diferença

Em vários momentos na CPI, Barra Torres foi elogiado pelos senadores por sua postura assertiva, não deixando de responder a nenhum questionamento, diferentemente do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que irritou os parlamentares por ter tentado a todo momento em seu depoimento se esquivar dos questionamentos para não comprometer Jair Bolsonaro.