Em sua campanha eleitoral para presidente da República, o então deputado federal Jair Bolsonaro tinha na figura do economista Paulo Guedes alguém que faria com que ele fosse aceito entre a elite brasileira.

Enquanto Bolsonaro se ocupava em entreter a plateia com suas falas grotescas, que iam desde ataques a mulheres, indígenas, homossexuais e ameaças à democracia, o mercado financeiro poderia dormir tranquilo sabendo que um possível Governo do ex-militar teria na área econômica a liderança de Guedes.

O próprio Bolsonaro alimentava essa percepção.

Enquanto candidato, diversas vezes quando questionado sobre a economia, afirmava que não entendia nada sobre o assunto e que as perguntas deveriam ser endereçadas ao seu futuro ministro da Economia, apelidado de Posto Ipiranga.

Vale ressaltar que Bolsonaro afirmava algo parecido em relação a outras áreas do governo, e seu discurso era de que seus ministros seriam todos técnicos. E então o Brasil elegeu um presidente da República que participou de apenas um debate na campanha eleitoral.

Expectativa e realidade

Não demorou muito para que, na época, o economista desconhecido pelo grande público mostrasse sua verdadeira face, para que seu nome tivesse aprovação do mercado financeiro, Guedes, a princípio, mostrou que não tinha aptidão nenhuma para o jogo político.

Economista formado pela Universidade de Chicago, já no início de seu mandato como ministro, ele começou a acumular desafetos entre os parlamentares.

O Planalto então tratou de afastar o economista de negociações com deputados e senadores, já que criar crises desnecessárias é uma das principais características do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e para isso ele não precisa da ajuda de ninguém.

De 2018 para cá, Paulo Guedes não correspondeu a toda confiança que o mercado e parte da mídia e muitos eleitores de Bolsonaro depositaram nele, o que acabou acontecendo é que o Brasil começou a tomar conhecimento da verdadeira ojeriza que Guedes parece ter a pobres.

Justo Veríssimo

O fundador do banco BTG Pactual revelou-se uma espécie de deputado Justo Veríssimo, o personagem criado pelo saudoso Chico Anysio que dizia odiar pobres.

Se Guedes, em suas falas, faz um louvável esforço para deixar de lado o “economês”, ao mesmo tempo ele é extremamente infeliz em suas metáforas, que por diversas vezes faz ofensas a funcionários públicos, empregadas domésticas e setores mais humildes da sociedade.

Uma das falas clássicas de Guedes foi quando comentou sobre o preço do dólar, o economista afirmou que o dólar alto era bom para todos. Que com o câmbio mais baixo, as empregadas domésticas estavam indo para os Estados Unidos passear na Disney. Paulo Guedes em outra ocasião chamou os funcionários públicos de “parasitas”. Posteriormente ele se desculpou pela fala desastrada.

Guedes parece não conseguir conter seu horror aos pobres. Na última quinta-feira (17), o ministro de Bolsonaro declarou que os brasileiros enchem seus pratos de comida e deixam sobras enormes de comida nas refeições.

A fala aconteceu em um debate promovido pela Abras (Associação Brasileira de Supermercados), evento em que o ministro da Economia falava sobre sanidade, rastreabilidade e desperdício de alimentos nas cadeias de produção e distribuição.

Multifacetado

Não é raro ver o comandante da pasta da Economia dar pitacos fora de sua área. O economista em uma ocasião em que atacava sistema de financiamento estudantil, o Fies de dar benefício até para o filho do porteiro que se deu bem no vestibular. O economista até mesmo demonstrou sua ira contra a população ao culpar as pessoas por quererem viver por mais de cem anos, o que tornaria inviável a capacidade de investimento do Estado.

Projeto de governo

Muitos acreditam que o caótico governo Bolsonaro não tem um projeto definido, mas talvez o projeto do atual governo parece estar bem definido com figuras importantes em vários ministérios, como por exemplo, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, conhecido como anti-ministro do Meio Ambiente.

Enquanto Salles representa a política ambiental do presidente Bolsonaro, Paulo Guedes talvez seja o porta-voz do mandatário que, por motivos óbvios, não pode dar esse tipo de declaração, mas que por diversas vezes também já ofendeu setores mais humildes da população que governa.