O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) retirou na última sexta-feira (5) a Ordem do Mérito Científico dada na última quinta-feira (4) para os pesquisadores Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda e Adele Schwartz Benkazen. A decisão está no "Diário Oficial da União".

Pesquisadores

A honraria foi criada em 1993 com a intenção de prestar homenagem a figuras nacionais e internacionais que se destacaram por relevantes contribuições para ciência. O pesquisador Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda foi o coordenador do estudo no estado do Amazonas que concluiu que a cloroquina é ineficaz para o tratamento da Covid-19.

O cientista também manifestou-se de maneira clara contra o uso do remédio e sofreu ameaças por causa disso.

Adele Benzaken, atual diretora da Fiocruz Amazônia, liderou a área de enfrentamento ao HIV/Aids no Ministério da Saúde nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer, porém, foi demitida da função no começo do Governo do atual presidente da República.

Jair Bolsonaro é um defensor do uso da cloroquina contra o coronavírus, apesar de estudos científicos terem comprovado que o remédio não tem nenhum efeito contra a doença. Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também reconheceu que o medicamento não tem eficácia contra a Covid-19. Outra organização que se manifestou contrária ao medicamento defendido por Bolsonaro é a Associação Médica Brasileira (AMB) que declarou que a cloroquina deve ser banida no tratamento da Covid-19.

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), afirmou que o remédio não surte efeito contra a doença.

Em 2020, especialistas de várias universidades do Brasil, incluindo Lacerda, divulgaram uma nota em que afirmavam que o governo federal não pode colocar em risco a população com um “tratamento sem garantias de segurança e eficácia”.

Em outubro de 2021, foi aprovado o relatório final da CPI da Covid no Senado. Entre outros pontos, ficou concluído pela comissão que o governo federal fez, e ainda faz, propaganda de remédios sem eficácia contra a Covid-19.

Recusa

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva informou que o epidemiologista Cesar Victora recusou a condecoração concedida pelo presidente da República.

Em uma carta publicada pela associação, o epidemiologista declara que a condecoração, ainda que signifique um reconhecimento importante, foi dada por um governo que não somente ignora, mas boicota de maneira ativa as recomendações dos epidemiologistas.

Na sexta-feira, a Academia Brasileira de Ciências condenou a decisão do presidente Bolsonaro de retirar a condecoração de Lacerda e Benzaken. A entidade na carta classificou o ato como "mais um ataque à ciência, à inovação e à inteligência do país".