Desde a última quarta-feira (15), os assinantes da Netflix [VIDEO] podem conferir o filme “The Hand of God – A Mão de Deus”, escrito e dirigido pelo renomado cineasta italiano Paolo Sorrentino. Certamente, o título em inglês da produção italiana tem como objetivo facilitar a divulgação do longa nos Estados Unidos para uma possível indicação ao Oscar na categoria Melhor Filme Estrangeiro. O longa-metragem de 2h10min tem arrancado elogios da crítica especializada, e também foi indicado ao Globo de Ouro.

Difícil definição

Na Nápoles da década de 1980, Fabietto Schisa ((Filippo Scotti), um adolescente tímido e sensível, apaixonado por futebol, tem que encarar uma tragédia familiar que irá definir os rumos de sua vida.

É basicamente assim que está a sinopse oficial do filme de Sorrentino, que não prepara o espectador para as várias nuances apresentadas pelo diretor e roteirista.

Mas a sensibilidade com que o cineasta conduz a trama faz com que o filme não se torne cansativo, mesmo ultrapassando a marca de duas horas. “A Mão de Deus” é obviamente um coming of age, ou seja, um filme de amadurecimento, neste caso, com fortes tintas biográficas, em que o protagonista seria um alter ego de Sorrentino, porém o cineasta mistura suas vivências de sua juventude em Nápoles com várias passagens fantasiosas, o filme flerta até mesmo com o fantástico.

Diego Armando Maradona

Fica fácil imaginar que um brasileiro amante de futebol possa dar risada logo na abertura do filme, em que é mostrada uma frase do craque Argentino “Fiz o que pude.

Acho que não fui tão mal.” e em seguida vem o epíteto de “o melhor jogador de todos os tempos”.

A trama traça um paralelo entre a chegada do jogador de futebol argentino à Itália, com a saga da família Schisa e a devoção das figuras masculinas dessa família ao craque da América do Sul, o filme retrata como Maradona se tornou uma figura divina na Itália, e aqui se encontra mais um elemento da vida do diretor que foi transposto para a tela.

Transição

O apresenta a família Schisa com Patrizia (Luisa Ranieri), tia e musa do protagonista, a bela mulher passa por uma situação bizarra que ela jura ser verdade, e Sorrentino deixa a dúvida no ar, se o que foi visto realmente aconteceu ou se estava somente na cabeça da personagem, o diretor fecha a obra com a mesma dúvida e também deixa no ar a questão).

A situação leva a um confronto de Patrizia com seu marido Franco (Massimiliano Gallo), que chega a esbofetear, a situação de violência doméstica não evolui para uma drama maior por causa da interferência de Fabietto e seus pais Maria (Teresa Saponangelo) e Saverio (Toni Servillo).

Algumas das situações mais bonitas do filme são protagonizadas justamente por esse núcleo familiar que é completado pelos irmãos mais velhos de Fabietto, Marchino (Marlon Joubert) e Daniela (Rossella Di Lucca), somente se ouve a voz da jovem, pois ela está sempre no banheiro, e deixa a dúvida no espectador se ela será vista no filme. Esta situação não é nem a mais estranha da família Schisa, que apresenta uma variedade de tipos exóticos e situações absurdas.

O filme passa boa parte do tempo com o tom de comédia para aos poucos ir se tornando mais soturno. Devido ao talento do experiente Paolo Sorrentino, o filme está longe de ser considerado uma colcha de retalhos ao misturar elementos biográficos, com fantasia, humor e drama, belo gol da Netflix, e feito de maneira legal, diferente do gol de Maradona na Copa do Mundo de 1986 em que ele usou a mão para marcar, daí o apelido que ele ganhou e que origem ao filme da Netflix.