Mais algumas figuras de extrema-direita começam a dar mostras de decepção com o presidente Jair Bolsonaro (PL). Foi o que foi visto no programa online "Conserva Talk", que reuniu os ex-ministros Abraham Weintraub (Educação), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Salles (Meio Ambiente).

Ainda que Bolsonaro não tenha rompido oficialmente com Weintraub e Araújo, é bem verdade que os dois não estão sendo mais lembrados pelo líder do Executivo. Ambos, por terem prestado bons serviços na vassalagem ao ocupante do Palácio da Alvorada, foram recompensados depois que ficou insustentável a permanência da dupla no governo Bolsonaro.

Weintraub foi demitido da pasta da Educação em junho de 2020. Ele recebeu uma indicação do governo federal para ocupar um cargo no Banco Mundial, com um salário que ultrapassa os R$ 100 mil. Ernesto Araújo, por sua vez, foi designado para ocupar uma secretaria da pasta de Relações Exteriores.

Centrão

Porém, a dupla se queixa que foi trocada por figuras do centrão. Os dois se sentem abandonados por Bolsonaro ter trocado a pauta de costumes, que tanto agrada aos adoradores do presidente, pelo fisiologismo do centrão.

Delírios comunistas

No programa, Ernesto Araújo explicitou suas ideologias. Ele fez piada com o Partido Progressista, dizendo que a legenda, na verdade, quer dizer “Partido de Pequim”.

O ex-chanceler ainda acusou dois ministros do governo Bolsonaro que fazem parte da legenda, Ciro Nogueira (Casa Civil) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo), de estarem atuando para fazer com que o Brasil se torne uma colônia da China.

Acompanhando os ex-ministros na conversa estava também presente o pastor Silas Malafaia.

O religioso é uma das figuras que mais aconselham Bolsonaro. Malafaia, que parece se interessar muito mais pela vida política do que por uma possível vocação religiosa, mostrou que, pelo menos até agora, não abandonou Jair Bolsonaro.

Na live, o titular da Assembleia de Deus Vitória em Cristo defendeu Bolsonaro, dizendo que o mandatário não conseguiria governar se não cedesse ao centrão.

O pastor misturou política com religião, como é seu estilo, quando citou passagens da Bíblia para defender as ações do presidente da República.

Revelação

Se Ernesto Araújo não surpreendeu ninguém com suas teorias conspiratórias, assim como não é novidade para ninguém que Malafaia dá nó em pingo d’água para justificar os atos de Bolsonaro, a surpresa ficou por conta de Abraham Weintraub, que disse que Bolsonaro sabia com antecedência que havia uma investigação contra seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), no tempo em que era deputado estadual no Rio de Janeiro. Flávio é investigado junto com o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz em suspeita de desvio de dinheiro dos funcionários de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Morde e assopra

Weintraub fez a declaração, mas negou que Bolsonaro tenha agido para blindar Flávio. O ex-ministro disse que não iria falar mal de seu ex-superior hierárquico. Ele afirmou que a reunião em que Bolsonaro mostrou que sabia da operação aconteceu em 2018 e que estavam presentes outros ministros.