Talvez empolgado por ter assistido à boa minissérie vinda da Espanha “A Menina da Fita”, o assinante da Netflix [VIDEO] resolva dar uma chance ao filme espanhol “Infiesto”, por ambas as produções possuírem temática parecida. Enquanto a minissérie que está fazendo sucesso entre os assinantes da gigante do streaming conta com o status de ser baseada em um livro de sucesso e ter um rosto relativamente conhecido do público no elenco –a atriz Milena Smit–, “Infiesto” é uma produção mais modesta, mas não descuidada.

A trama

Enquanto em “A Menina da Fita” a trama inicia com o desaparecimento de uma menina de cinco anos, em “Infiesto” o começo se dá a partir da libertação de uma adolescente que ficou meses desaparecida.

O inspetor-chefe Samuel García (Isak Ferriz) e a adjunta Castro (Iria del Río) ficam encarregados de desvendar quem sequestrou a jovem. Este acontecimento leva a empenhada dupla de policiais a se deparar com uma trama bizarra que pode levar a outros casos de desaparecimentos de jovens mulheres.

A produção vinda do país de Pedro Almodóvar tem direção e roteiro de Patxi Amezcua. O cineasta utiliza dos clichês vistos em produções do gênero, como o policial amargurado por problemas familiares e que acaba se rendendo ao álcool. Isto por si só não seria um problema. A fórmula foi utilizada com maestria na minissérie da HBO “Mare of Easttown”. O problema é que em “Infiesto” este clichê não funcionou nem tanto por culpa do ator Isak Ferriz, que até fez um trabalho competente, mas a forma como Amezcua conduz a história, não sendo capaz de construir um cenário em que os dramas do personagem fossem mostrados de maneira a fazer o espectador se importar com o drama do inspetor-chefe.

Algo parecido aconteceu com a parceira de Samuel Garcia, porém a atriz Iria del Río teve mais sorte, pois sua personagem é uma espécie de porto seguro para o protagonista masculino, mostrando sua preocupação com o amigo e colega de trabalho. Os dramas pessoais da personagem estão menos ligados a clichês do thriller policial e mais conectados com o subtexto do filme.

A maneira encontrada pelo diretor-roteirista de fazer com que a produção não passasse de mais um suspense genérico que revisita velhas fórmulas foi inserir na história um contexto atual, a pandemia do coronavírus. A Covid-19 é um importante elemento da produção que se passa em Infiesto, uma pequena cidade localizada nas Astúrias, norte da Espanha.

De acordo com o que o próprio diretor revelou, a intenção foi utilizar o cenário bucólico para passar uma ideia de um vilarejo medieval, o que está de acordo com o enredo do filme que fala sobre uma seita milenar.

Como visto nas linhas iniciais do texto, “Infiesto” se trata de uma produção pensada para atingir seus objetivos, e um dos elementos da linguagem cinematográfica utilizados pelo diretor foi uma fotografia com tons amarelados, o que pode mostrar que a intenção do cineasta foi menos a de mostrar o clima de medo e isolamento causado pela pandemia e mais a de simular um ambiente mais voltado para uma aldeia medieval.

Mas nem todas as boas intenções de Patxi Amezcua salvam “Infiesto” da sensação de tédio.

Amezcua fez um filme com pouco mais de meia hora, que pareceram ser muito mais de tão maçante que é a obra. Ainda que o filme tenha o mérito de não cair na tentação de explorar cenas chocantes, a violência está presente, mas sem exageros. O filme carece de bons vilões. Os agentes do mal da produção não têm nenhum carisma e a revelação da identidade do verdadeiro arquiteto do plano maligno está óbvia para o telespectador mais atento.