A Netflix [VIDEO] estreou na sexta-feira (10) “Na Sua Casa ou na Minha?” (Your Place or Mine). A produção protagonizada por dois ícones das comédias românticas dos anos 2000, Reese Witherspoon e Ashton Kutcher, tem direção e roteiro de Aline Brosh McKenna, outra veterana nas comédias. McKenna tem no currículo os roteiros de “O Diabo Veste Prada” (The Devil Wears Prada) (2006), “Cruella” (2021), “Compramos um Zoológico” (We Bought a Zoo) (2011) –todos roteiros adaptados. Agora a roteirista estreia na direção com um roteiro próprio.
Clichê do clichê
Já se tornou um hábito criticar os clichês de comédias românticas. É como se somente este gênero cinematográfico utilizasse de lugares-comuns, o que não é verdade. A comédia sempre foi um gênero relegado ao segundo plano em Hollywood, como se fosse um gênero menor e que demandasse menos de quem as produz, o que certamente é um grande equívoco.
O subgênero comédia romântica sofre ainda mais com essas críticas, talvez não só por pelo preconceito já exposto acima. Talvez também pelos artifícios utilizados pelos roteiristas ficarem mais evidentes para o público, a comédia romântica receba um olhar mais atento não só da crítica especializada, mas também por boa parte do público.
Os culpados
Feita a defesa do gênero, não se pode também retirar a culpa de artistas conhecidos deste popular gênero cinematográfico, como Adam Sandler, que apesar de também ser outra figura lendária das comédias românticas, com verdadeiros clássicos da “Sessão da Tarde” como “Como Se Fosse a Primeira Vez” (50 First Dates), de 2004, sempre ficou bem à vontade em participar de projetos de qualidade duvidosa, para dizer o mínimo, como “Cada Um Tem a Gêmea que Merece” (Jack & Jill), de 2011.
Com a chegada da era do streaming, a Netflix vem dando uma forte contribuição para o empobrecimento do gênero, com várias produções bem abaixo da média, para se dizer o mínimo. A empresa em 2023 parece ter inaugurado uma nova estratégia para a produção de suas comédias românticas, fase essa inaugurada no final de janeiro com o filme “Certas Pessoas” (You People), produção protagonizada por Jonah Hill e Lauren London que consegue a proeza de desperdiçar o talento de Julia Louis-Dreyfus e David Duchovny e é claro, do próprio Eddie Murphy.
A trama
Em “Na Sua Casa ou na Minha?” Witherspoon e Kutcher vivem Debbie e Peter, dois amigos na faixa dos vinte anos que após uma única noite de amor acabam não engatando o relacionamento. Duas décadas se passaram, Debbie continuou sua vida em Los Angeles e abandonou seu sonho de ser editora de livros. Ela se casou e depois do divórcio se tornou uma atarefada mãe solteira que se dedica a ser mãe de Jack (Wesley Kimmel).
Peter, por sua vez, também abandonou seu sonho de juventude, que era se tornar um escritor, e mudou-se para Nova York, onde se tornou um bem-sucedido consultor de marketing. Em Nova York ele vive uma vida luxuosa de solteirão convicto, em que seus relacionamentos não duram mais que seis meses.
Durante todos esses anos os dois nunca perderam contato e se falam todos os dias, seja por telefone ou chamadas pelo FaceTime.
Debbie ganha uma oportunidade de fazer um curso de capacitação em sua área em Nova York, mas sem ter com quem deixar seu filho, ela está prestes a deixar a oportunidade passar quando Peter se oferece para se mudar para a casa da amiga cuidar de Jack, enquanto ela viaja para Nova York e fica hospedada no apartamento dele. E assim é visto no filme o esperado estranhamento que a troca de ambiente irá provocar na vida dos protagonistas. O problema do longa-metragem é que ele funciona menos quando mostra os protagonistas como um casal e mais em vê-los fora de suas zonas de conforto e tendo que repensar suas vidas.
Com piadas fracas, as melhores partes do filme são justamente as que seus protagonistas estão separados. Se a diretora Aline Brosh McKenna não caísse na tentação de um final clichê, poderia salvar um pouco da dignidade de sua obra, que infelizmente está mais apoiada no carisma do casal de protagonistas, mas somente enquanto eles estão separados.