O acordo entre o Mercosul e a União Europeia, em negociação há mais de duas décadas, permanece em um impasse, apesar dos recentes esforços para concretizá-lo. Este acordo, potencialmente um dos maiores do mundo em termos de livre-comércio, enfrenta uma série de desafios complexos, que vão desde questões ambientais e protecionistas até divergências econômicas e políticas.

Desafios ambientais e de sustentabilidade

A União Europeia impôs rigorosas demandas ambientais, principalmente relacionadas ao desmatamento, que afetam diretamente os produtos exportados pelo Mercosul, como carne, soja, madeira, café, cacau e óleo de palma.

Essas exigências têm sido criticadas por alguns membros do Mercosul como protecionismo disfarçado, alegando que tais medidas desequilibram o sistema de cotas do acordo e dificultam a competitividade dos produtos sul-americanos.

Protecionismo e questões econômicas

Além das preocupações ambientais, o acordo enfrenta resistências de setores econômicos significativos. Na Europa, produtores agrícolas temem a concorrência com os sul-americanos, que oferecem produtos a custos mais baixos. Por outro lado, na América do Sul, especialmente na Argentina, há uma forte resistência na indústria automotiva em relação à abertura do mercado. Outro ponto de controvérsia é a questão das compras governamentais, que prevê igualdade de condições para fornecedores de bens e serviços de qualquer país do tratado em licitações, o que poderia impactar negativamente as pequenas e médias empresas locais.

Contexto geopolítico atual

A crise energética e a inflação na Europa, agravadas pela guerra na Ucrânia, tornaram o Mercosul um parceiro ainda mais importante para a União Europeia. O bloco sul-americano possui recursos energéticos valiosos, como o gás da Argentina e o potencial de hidrogênio verde, que podem ser cruciais para a Europa neste momento.

O acordo facilitaria as transações comerciais e de investimentos, beneficiando ambas as partes.

Perspectivas futuras

Apesar dos desafios, as negociações continuam com os países-membros buscando superar os obstáculos. A concretização do acordo traria benefícios econômicos substanciais, estimando-se um incremento de US$ 87,5 bilhões no PIB brasileiro em 15 anos.

A expectativa é que, ao superar esses desafios, se forme uma das maiores áreas de livre-comércio do mundo, com impactos positivos significativos para as economias envolvidas.

União Europeia e Mercosul emitem nota conjunta

Em nota conjunta divulgada nesta última quinta-feira (7), Mercosul e União afirmam estar engajados "em discussões construtivas com vistas a finalizar as questões pendentes no âmbito do Acordo de Associação".

"Nos últimos meses, registaram-se avanços consideráveis. As negociações prosseguem com a ambição de concluir o processo e alcançar um acordo que seja mutuamente benéfico para ambas as regiões e que atenda às demandas e aspirações das respectivas sociedades", diz a nota.

O Mercosul é formado por Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil, porém a Bolívia está em processo de ingresso no bloco. Já a União Europeia é formada por 27 membros.