Perigo para alguns, ameaça de contaminação para outros, alternativa energética para determinadas regiões carentes de fontes de geração. O fato é que a energia nuclear foi –e ainda é– um tema muito controverso, desde que surgiu a partir da segunda metade do século 20.

Odiada por ambientalistas e defensores da natureza, esse modelo teve um fim definitivo na Alemanha, um dos países que mais apostou na geração atômica de energia elétrica. Neste sábado (15), as últimas três usinas que se localizavam em regiões diferentes do território alemão foram desligadas/desativadas de vez.

No caso da Alemanha, foi uma vida de 60 anos que não teve um fim súbito. Há algum tempo que se previa o fechamento de todas as usinas nucleares. O cronograma original estipulava o prazo final para outubro de 2022, após debates causados por acidentes nucleares ocorridos em outras partes do mundo.

A resolutividade do governo era muito plena, pois o primeiro-ministro Olaf Scholz declarou uma sobrevida às usinas até abril de 2023. Nada além disso.

Participação encolhida

Grande aposta dos alemães, a energia nuclear obteve seu apogeu na década de 1970, quando representou um importante componente na matriz energética. Atualmente, só 6% de toda energia consumida na Alemanha provém das usinas atômicas.

Ao se analisar a composição da matriz energética, percebe-se que 44% da produção vem de energias renováveis. Porém, o país é bem dependente do carvão, o qual possui o percentual de 30%.

Em termos de renovação, os alemães andam investindo em fontes de geração eólica, solar e de biocombustíveis. Tendência que também se observa em outros países da Europa.

Mesmo com a guerra travada na Ucrânia, a área de gás permanece com sua importância, embora tenha encolhido um pouco. Foi justamente o conflito no Leste Europeu que provocou o atraso na decisão do premiê alemão.

Ação e reação

O Ministro do Meio Ambiente alemão, Steffi Lemke, parabenizou a desativação, alertando que “os riscos da energia nuclear são incontroláveis”.

Já o professor Christian von Hirschaussen, da Universidade de Tecnologia de Berlim, foi mais longe e afirmou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo que “essa possibilidade acabou. Dezessete usinas foram fechadas desde 2010 e não há opção de iniciarmos novas construções. A lei de energia prescreve 100% de eletricidade renovável até 2035.”

Contudo, ecoam vozes do outro lado: apesar de ser benéfico, o desligamento das usinas nucleares suscitou polêmicas. Um dos que são contra é o vice-líder do partido político FDP, Wolfgang Kubicki. Em sua opinião, “é um erro dramático que terá consequências econômicas e ecológicas dolorosas.”

Parece que Wolfgang capturou o sentimento de 67% da população, a qual gostaria por uma extensão no funcionamento das usinas.

Esse porcentual foi colhido numa pesquisa feita no país.

Com vários pontos em contrário, há que frisar: a energia atômica não produz resíduos de carbono, representando um ponto positivo quando se compara com o carvão, por exemplo.

Laços com o Brasil

O surgimento da energia nuclear teve como principal propulsor a crise do petróleo. Sentindo seus efeitos, a Alemanha embarcou na energia nuclear. Em 1975, o Brasil firma parceria com o país europeu para a construção do complexo nuclear em Angra dos Reis (RJ). Até hoje, questiona-se a viabilidade e a utilidade do projeto.

Na década seguinte, registram-se as primeiras inversões: a catástrofe de Chernobyl, na então União Soviética, acendeu um certo sinal de atenção para a Alemanha.

Ainda assim, três anos depois, em 1989, inaugura-se outra usina nuclear em solo alemão.

Dessa época até o acidente de Fukushima em 2011, no Japão, passou-se um longo tempo. Foi quando o governo alemão viveu o inferno e a pressão de protestos antinucleares. O acidente japonês foi o estopim necessário para que a então primeira-ministra Angela Merkel decretasse o fim das usinas nucleares.

A crise na Ucrânia reacendeu a demanda pela construção de mais usinas, fenômeno que acontece no Reino Unido, China, Estados Unidos e França. Mas, a motivação real destes países estaria embasada na substituição dos combustíveis fósseis, os quais são prejudiciais à saúde e ao ar que se respira. Não se pode mentir que a geração de eletricidade advinda da energia nuclear é mais cara, se comparada com alternativas mais limpas, modernas, de custo menor e de baixo impacto ambiental.

Greenpeace

Conhecido por seus protestos irônicos, polêmicos e de ampla divulgação, a organização ambiental Greenpeace chamou a atenção do governo da Alemanha em relação ao descarte correto e consciente do lixo atômico produzido pelas usinas, uma vez que o material acumulado continuará radioativo por muitos e muitos anos.

Além disso, o Greenpeace já iniciou sua festa no Portão de Brandemburgo, em Berlim, e na cidade de Munique, região da Baviera, onde estava situada uma das últimas usinas nucleares que foram desativadas neste dia 15. Para ele, o fim da era nuclear começou.