Supermãe, a Turma do Pererê e o Menino Maluquinho estão com algumas lágrimas nos olhos e na face. O criador de todos eles e de mais personagens dos desenhos e quadrinhos parou definitivamente de pintar e de criar no papel e na prancheta.

Ziraldo Alves Pinto, ou o óbvio Ziraldo apenas, faleceu ontem, 06/04/2024, em seu apartamento no Rio de Janeiro.

A morte foi confirmada pela família no meio da tarde do mesmo dia. Ele tinha 91 anos e a avaliação foi de causas naturais.

Muitas facetas

Ziraldo não se ateve às linhas e retas do desenho: além de caricaturista e chargista, foi jornalista e cronista.

Nos anos 1960, ele fundou o jornal “O Pasquim” junto com um grupo de colegas, entre eles Millôr Fernandes, Ivan Lessa, Henfil e Paulo Francis. Em comum, todos queriam criticar ou combater a ditadura militar no Brasil.

Filha do cartunista, Daniela Thomas afirmou que seu pai teve falência múltipla dos órgãos. “Ele simplesmente parou de respirar. Já eram seis anos acamado, e começou ultimamente a ficar com muita fraqueza, ter muita febre.”

Sua cunhada Cecília disse que o criador do “Menino Maluquinho” teve um acidente vascular cerebral e, desde então, a saúde foi piorando. Ela se refere ao AVC que o artista sofreu em 2018. Ficou internado em estado grave e, depois, teve alta hospitalar.

Ainda assim, veio a público para desmentir uma “fake news” de que tinha morrido em 2019 .

Seis anos antes, Ziraldo sofreu um ataque cardíaco na Alemanha.

Pequena história

Ziraldo era mineiro de Caratinga e seu ponto inicial na carreira foi em 1954, quando entrou na “Folha da Manhã”, hoje “Folha de São Paulo”. Ali já mostrava seus dotes humorísticos ao ter uma coluna.

Originalmente era formado em Direito em Minas Gerais.

Mais tarde, ficou conhecido por seu trabalho nas publicações “Jornal do Brasil” e “O Cruzeiro”.

Em 1960, teve seu primeiro ato de criação nos quadrinhos com a “Turma do Pererê”. Neste fato específico, acumulou dois pioneirismos: o primeiro gibi feito apenas por um único autor. O outro está relacionado à produção: o primeiro quadrinho feito totalmente em cores no Brasil.

Mas, Ziraldo teve que amargar a retirada de seu “Pererê” por questões conturbadas ligadas ao golpe de 1964. A publicação voltou a circular novamente em meados dos anos 70.

No começo dos anos 80, Ziraldo criou sua personagem mais notória e conhecida pelo público, o “Menino Maluquinho”. Com ele, o desenhista vendeu cerca de 4 milhões de exemplares.

Ziraldo lançou mais de 200 livros e lançou outros títulos como “Menina Nina”, “O Bichinho da Maçã” e “O Planeta Lilás”.

Antenado com o contexto que o país vivia nos anos 60, Ziraldo era contrário à ditadura. Um dia depois da vigência do Ato Institucional nº 5, ele foi preso e permaneceu encarcerado no Forte de Copacabana.

Mesmo não tendo disputado alguma vaga ou cadeira para a política, Ziraldo não deixava de acompanhá-la e participava dela.

Em 2005, filiou-se ao PSOL e, inclusive, é dele a criação da logomarca do partido.

Companheiro

Colega e amigo de Ziraldo, Maurício de Sousa apareceu nas redes sociais com um desenho feito por ele em homenagem ao desenhista mineiro. Em seguida, colocou uma foto dos dois juntos.

O criador da Turma da Mônica manifestou tristeza e declarou que perdeu um amigo, um irmão. Disse que Ziraldo sempre estará no coração dele, bem como no coração de milhões de brasileiros “maluquinhos de todas as idades, que seguirão apaixonados por sua obra”.

Em uma montagem feita pela Internet, o autor de “Menino Maluquinho” aparece numa foto com o logotipo da “Supermãe”. Abaixo, ele escreve com aquele traço típico a seguinte frase: “Eu fiquei velho semana passada.

É assustador, mas tem uma vantagem: você vai subindo a escada, cada ano um degrau. Eu cheguei no alto da torre e daqui do alto, a vista é linda”.

O velório está previsto para a manhã desse domingo, 07/04, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em comunicado emitido pela família, na tarde do mesmo dia, ocorrerá o enterro do corpo no Cemitério São João Batista. Vida longa!