População e Governo estão em direções diferentes, mas correm pela mesma estrada: enquanto o primeiro se preocupa com os números relacionados à imagem e popularidade, o segundo preocupa-se com a possibilidade de haver menos comida na despensa e no prato.

Em comum, a inflação vem atuando nessas duas esferas da sociedade. Explicando melhor: a alta de preços registrada no grupo de alimentos no começo de 2024 fez com que o Presidente Lula virasse seu olhar para o assunto economia.

A queda de seu prestígio perante a população mobilizou Lula, o qual solicitou medidas e providências no tocante ao barateamento de itens da cesta básica.

Para navegar em águas calmas, ele sabe que o controle da inflação é vital para o desempenho do Planalto. E é natural que isso pese mais na parte da população com menos recursos, os mais pobres.

Neblina à frente

Além dessa conjuntura em função do consumidor, o Executivo tem outro desafio para contornar: a diminuição da colheita agrícola e a quebra de safra em alimentos como o arroz e o feijão, essenciais para a composição do prato da ampla maioria dos brasileiros.

Em vez de esperar sentado, o Governo se mexe atrás do palco para implantar medidas que suavizem ou impeçam o efeito negativo sentido na agricultura. Entre elas, cogitam-se a formação de estoques para garantir a estabilização dos preços e um crédito mais acessível com o objetivo de dar uma aliviada na situação dos produtores.

Neste último quesito, o Governo pensa em oferecer financiamentos a juros menos elevados.

Particularmente, Lula volta sua atenção a outro fator que não tem afinidade com a economia, mas que é um fator de influência determinante na opinião pública: a comunicação e a imagem.

O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avalia que os preços dos alimentos estão cedendo.

Entretanto, o Secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, faz um retrato mais fiel à realidade.

Ele reconhece a queda na produtividade do campo registrada no início de 2024 e apontou, como motivo principal, as mudanças climáticas. Porém, adiantou que o setor agrícola não apresenta crise.

Subida de preços

Mesmo com uma desaceleração em relação ao mês de fevereiro, março ficou com o troféu de campeão na subida dos preços dos alimentos.

Beber e comer ficou 0,91% mais caro.

É inegável que o ‘monstrinho’ da inflação venha refletindo uma menor oferta de comida, já que as mudanças climáticas foram mais agressivas. Há que se dar um certo desconto na culpa, pois os alimentos representaram, em grande parte, o grupo que contribuiu para a inflação abaixo do esperado em 2023.

Para economistas, o horizonte é de aceleração da inflação durante 2024, pois há sinais detectados para que isto se concretize. Alguns arriscam o palpite de que as classes mais baixas serão as mais afetadas.

André Braz, da Fundação Getúlio Vargas, opina que “a variação no preço dos alimentos é a mesma para todos. Mas os mais pobres sentem mais [em suas despesas] devido ao peso no orçamento”.

Maria Andréia Parente Lameiras é pesquisadora do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e diz que “um quarto da cesta dos mais pobres é [para compra de] alimentos”.

Ela confirma a influência climática na formação de preços dos alimentos, com menor safra em 2024. Só acrescentou a tendência do reaparecimento do fenômeno “La Niña” mais para frente.

O resumo de tudo é que alimento virou uma peça importantíssima e central no tabuleiro em que cada lado busca a melhor jogada para si. Para isso, o lado do Governo precisa contemplar o seu lado, bem como o dos consumidores, os quais veem seu lado com poder aquisitivo apertado.