Condenado a 29 anos de prisão, Julinho Carambola poderia ter um destino diferente caso tivesse sido para sempre o Moraes. Na manhã de 26 de novembro de 1989, uma outra identidade foi se inserindo quando Júlio Cesar Guedes de Moraes, 18 anos, alto, forte e boa pinta, deu suas primeiras braçadas no mar do crime - onde ainda não se afogou, mas nunca mais encontrou a terra.

O dia aparentemente calmo no centro da capital paulista ganhou contornos de emoção quando Moraes aproximou-se de um Porsche azul estacionado no cruzamento da Avenida Paulista com a Rua Augusta.

De arma em punho, ordenou que o motorista lhe passasse o relógio Rolex que usava. A vítima não reagiu. Porém, assim que o bandido virou de costas, gritou "pega, ladrão" e deu a senha necessária para os polícias irem em busca da isca. A troca de tiros foi em vão. Seria apenas a primeira prisão de Moraes.

Sua rotina já estava traçada. Depois de vivenciar oito meses no ambiente podre da cadeia, não aguentou mais: aceitou um plano de fuga, que surpreendentemente se mostrou bem executado. Era apenas um até breve, logo estaria de volta. Solto, voltou a roubar, praticar o mal e assaltar bancos. Em 1993, ao dividir pela quarta vez uma cela lotada com presos de todos os níveis, decidiu entrar para uma facção criminosa que recém saía do forno.

Fugiu, foi preso mais uma vez e, em 1995, assassinou três detentos rivais com golpes de faca em uma chacina bárbara comandada por 14 detentos. Em 2002, depois de uma verdadeira guerra no comando da facção, Moraes, que já não era mais Moraes, ganhou outro nome e status. Agora, ele era Julinho Carambola, o segundo homem na linha de frente do PCC, a organização criminosa que espalha de São Paulo para o país inteiro.

De um relógio roubado a uma série de crimes orquestrados no posto de líder de uma facção conhecida, a transformação de Júlio Cesar Guedes de Moraes em Julinho Carambola é o exemplo vivo de como o sistema prisional brasileiro não reeduca e não ressocializa. Quem entra, sai muito pior.