O bar voltado para o público de comportamento g-zero-y (gØy), que foi inaugurado em novembro do ano passado, chamou muita a atenção. A abertura foi notícia aqui mesmo na Blasting News, como também em diversas outras mídias. Somente em um canal do YouTube de jornalismo irreverente é que retratou a inauguração do bar no Largo do Arouche, no centro da capital paulista. O vídeo foi visto por mais de 45 mil pessoas.
Pelos comentários, apesar de divididos, haviam vários posicionamentos de apoio à diversidade erótica.
Porque tanta repercussão para um bar?
O motivo de tantos holofotes e comentários na internet a respeito desse estabelecimento no Largo do Arouche é porque o bar era primordialmente voltado para encontros com homens que se relacionam eroticamente com outro homens, mas não são homossexuais. São os chamados heteroflex ou gØys. Eles se beijam, se abraçam, ficam agarradinhos um ao outro, demonstram afeto e carinho pelo mesmo gênero e que também vão além do toque, passando para interações íntimas, mas tudo absolutamente sem cópula.
Cheio de expectativas, o bar funcionava todas as quartas-feiras, e logo de início, chamou a atenção por essa nuance da sexualidade, até então desconhecida por várias pessoas. E agora, o local chama a atenção pelo fato de que em apenas três meses de funcionamento acabou fechando as portas. O que seria? Falta de público? Rejeição? Problemas financeiros para a sua manutenção semanal?
Apesar das diversas possibilidades e questões que poderiam estar por trás desse fechamento, a verdade é que uma das proprietárias do local, Adélia dos Santos, de 63 anos, acabou falecendo em decorrência de complicações renais. Segundo Carlos Aragan, que atende pelo pseudônimo de Karlos, gerente do bar, a decisão de fechar o Pub gØy não teve nada a ver com aceitação do público.
Segundo Karlos, o principal motivo para o fechamento foi o falecimento de sua sócia. "Era ela quem arcava com todas as despesas, desde pagamento do aluguel, financiamentos, pagamento das contas em geral e cuidava de toda a parte administrativa. Eu participava somente com a parte operacional de gerenciamento", conta. Por não ter experiência no campo da administração, não possuir o capital necessário para manter o negócio sozinho e diante da perda da parceira, Karlos não enxergou alternativas e decidiu fechar as portas do bar.
Diante da decisão de encerramento, não apenas o Pub GØy fechou as portas, mas também o bar chamado Blackout Club, um dos estabelecimentos voltados para o púbico gay mais antigos e mais tradicionais da cidade de São Paulo, e que funcionava no mesmo local nos demais dias da semana.
A harmonia entre 'tribos homoafetivas' reinava
Segundo Karlos, a ideia de se ter um espaço voltado para a socialização e a interação do público gØy, foi muito bem aceita. O local era frequentado por homens e mulheres solteiras e também por casais héteros que frequentavam o pub juntos. O que mais surpreendeu no local foi a harmonia que imperava. Apesar de reunir tribos diferentes, em nenhum momento a casa teve que filtrar ou que cancelar cadastros.
"Nesses três meses que o bar funcionou, não teve nenhum problema desse tipo. Acho que o que ajudou bastante foi que nos demais dias da semana funcionava no local o Blackout Club, que era voltado para o público gay. Assim, as duas tribos conviveram em plena paz durante esse período.
Quem se sentia atraído pela proposta heteroflex e gØy, vinha às quartas, já os gays vinham nos demais dias, e alguns bissexuais transitavam pelos dois momentos. Todos cumpriram as regras de convivência e foi harmonia pura durante esse período", conta.
Apesar de ter uma proposta inovadora, considerada supermoderna por muitos, o local foi alvo de diversas críticas nas redes sociais. A maioria das reclamações e críticas não diziam respeito à abertura do espaço ou críticas a um local sabidamente LGBT facilitar ou apoiar encontros de homens gØys. As reclamações eram direcionadas à estrutura física. Nesse quesito, Karlos se defende: "Essas críticas foram apenas porque, no mesmo local, funcionavam duas casas.
Então, no começo, a estrutura não agradou aos gØys, porque os gays gostavam de lugares mais escuros, no estilo dark ou underground, já os gØys, queriam o local mais iluminado, com mesas de jogos, com mais variedades de cervejas, e para os gays isso era irrelevante, os estilos eram opostos".
Segundo Karlos, esses problemas seriam contornados. "A cada semana que passava, estava sempre adaptando o ambiente para que agradasse a todos. Havia inclusive comprado mesas de sinuca, hair hockey e pebolim para colocar no ambiente do bar como os héteros tanto queriam e cobravam", afirma. A tendência era, aos poucos, com reformas e adaptações no local, agradar aos dois públicos, mas infelizmente "o pub teve que fechar as portas", afirma Karlos.
De certo, para o público gØy foi uma perda, tanto que o fechamento do local teve nota na página oficial do movimento no Facebook e no site heterogoy, que é o principal website difusor dos preceitos gØys da América Latina. "Lamentamos a perda - que haja o conforto necessário para a família e também lamentamos a decisão de fechamento. Diante da triste notícia, torcemos para que a ideia de um bar gØy continue e que novos empreendimentos surjam, pois os gØys precisam de local especial de socialização", publicou o site.