O Instituto Médico Legal de Altamira, no Pará, começou o trabalho de identificação dos detentos mortos após um motim, ocorrido na manhã desta segunda-feira (29), no Centro de Recuperação Regional de Altamira. Dez corpos já foram liberados.
Durante a madrugada, o caminhão frigorífico transportou parte dos corpos para o IML, onde familiares dos mortos se concentravam no portão em busca de informações. Algumas, por estarem sem comer e sem dormir, passaram mal e precisaram de atendimento. Uma tenda do Exército foi montada em frente ao prédio do IML.
"[...] para não dizer que eu não vi ele, eu só vi a cabeça dele dentro de um saco plástico, é muito triste perder um filho numa situação dessas”, disse em entrevista à Folha de S.Paulo Francisca Moreira de Lima. Seu filho, Adriano Moreira de Lima, foi um dos 16 detentos que foram decapitados durante o motim.
Por terem sido carbonizados, pelo menos 20 corpos precisarão ser identificados por meio da arcada dentária e o resultado demora entre 20 e 30 dias para ficar pronto. Os familiares que não dispõem de condições financeiras estão sendo cadastrados pela Defensoria Pública e serão preparados um velório e um enterro coletivos.
Anúncio dos nomes tem choro e desespero
Choro e desespero dos familiares marcou a divulgação dos nomes dos 57 presos mortos no massacre de Altamira.
No final da tarde, uma assistente social se aproximou e passou a falar os nomes, que eram atentamente ouvidos por uma multidão, em silêncio que só foi quebrado após a leitura do oitavo nome.
Aos prantos Josenite Irineu Gomes não sabia o que fazer após a confirmação que seu irmão estava entre os mortos. “Ele não, meu Deus. O que eu vou dizer para minha mãe”, repetia.
A cada nome que era dito, a voz da assistente social ia se tornando menos perceptível e dando lugar a gritos de desespero dos parentes.
O motim
O motim foi causado por causa da disputa de duas facções rivais que estavam no presídio. Por volta das 7h, quando as celas eram abertas para o café da manhã, os detentos da ala onde se encontra o Comando Classe A (CCA) fizeram dois carcereiros de reféns e invadiram a ala onde se encontrava os presos do Comando Vermelho.
Eles foram trancados no local, que foi incendido, e a maioria das vítimas morreu carbonizada ou asfixiada. Outros 16 foram decapitados e desmembrados e as cabeças jogadas em uma ala do presídio.
O superintendente da Susipe, Jarbas Vasconcelos, disse que o motim foi um ato dirigido. Um relatório do Conselho Nacional de Justiça classificou as condições da unidade como péssimas e apontou vários problemas, como a superlotação. De acordo com o CNJ, o local tem vaga para 163 detentos, mas abrigava 343.
No ano passado, uma tentativa de fuga neste mesmo presídio causou a morte de sete detentos.