O Brasil caiu quatro posições e ficou em 111º lugar no Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa, divulgada nesta terça-feira (20) pela ONG Repórteres Sem Fronteiras. Além da queda, pela primeira vez em vinte anos o país aparece na chamada "zona vermelha", que inclui países onde a situação para o trabalho da imprensa é considerada difícil.
Segundo o documento desenvolvido pela ONG, o ambiente de trabalho dos jornalistas é considerado tóxico desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência do Brasil, em 2019. O texto afirma que, entre os motivos que levaram o país a ser rebaixado no ranking, estão os constantes insultos, humilhações e estigmatização de jornalistas pelo "presidente, sua família e sua entourage".
ONG diz que ataque à imprensa cresceu durante pandemia
Segundo a ONG, com o avanço da pandemia no país, os ataques à imprensa no Brasil foram intensificados e a disseminação de notícias falsas cresceu.
O relatório diz ainda que “diante das mentiras compulsivas do presidente e da falta de transparência do Governo quanto à gestão sanitária, uma aliança inédita reunindo os principais meios de comunicação do país foi criada em junho de 2020, com o objetivo de obter informações diretamente de autoridades locais nos 26 estados do país e no Distrito Federal, para elaborar e comunicar seus próprios boletins”.
Na última década, o Brasil foi o segundo país da América Latina com o maior número de profissionais de imprensa mortos, ficando atrás apenas do México.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Emmanuel Colombié, diretor regional para a América Latina da ONG Repórteres sem Fronteiras, disse que a mídia no Brasil ainda é muito concentrada, o que prejudica o pluralismo. Ele também afirma que o sigilo das fontes tem sido regularmente ameaçado, com jornalistas sendo alvos constantes de processos judiciais abusivos.
Segundo Colombié, o trabalho da imprensa brasileira ficou muito mais difícil depois que Bolsonaro foi eleito.
ONG diz que Bolsonaro semeia desconfiança e destrói credibilidade da imprensa
O relatório ainda afirma que Bolsonaro, seus filhos e vários aliados do governo insultam e difamam o trabalho de jornalistas e os meios de comunicação quase que diariamente, seguindo uma estratégia estruturada com a intenção de semear desconfiança e destruir a credibilidade da imprensa.
"Além de incitar o ódio, a estratégia foca evitar que essas autoridades tenham que prestar contas à sociedade sobre o que as notícias trazem à tona", diz o documento.
Países que lideram a liberdade de imprensa
Avaliando as condições para o exercício do jornalismo em 180 países, o ranking é liderado pela Noruega, seguido da Finlândia, Suécia, Dinamarca e Costa Rica. Na ponta oposta da tabela estão Djibuti, China, Turcomenistão, Coreia do Norte, Eritreia.
Alguns dos países que se encontram ao lado no Brasil na "zona vermelha" são: Bolívia, Rússia, Nicarágua, Índia, Filipinas e Turquia. “Consideramos que é uma posição indigna de uma grande democracia como o Brasil”, disse Colombié à Folha.
Lançado em 2002, o ranking avalia critérios como pluralismo, transparência, independência das mídias, ambiente e autocensura, violência contra a imprensa e qualidade da infraestrutura de suporte à produção da informação.