O estigma associado aos bissexuais como "vetores de doença" tem sido uma realidade persistente, com a sexualidade bi frequentemente ligada à promiscuidade e, consequentemente, ao risco de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). No entanto, novos dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) desafiam essa percepção, revelando que, na verdade, os bissexuais têm menos diagnósticos de ISTs em comparação com homo e heterossexuais. Este artigo explora essa contradição e examina as causas subjacentes desse estigma arraigado.
O estigma histórico
Em entrevista ao site Metrópoles, o psicólogo especialista em público LGBTQIAP+ Lucas de Vito enfatiza que os bissexuais muitas vezes enfrentam pressões únicas. De um lado, são questionados quanto à sua orientação sexual, pois alguns acreditam que, se eles se relacionarem com um gênero específico, não são verdadeiramente bissexuais. Por outro lado, são estigmatizados como promíscuos, uma vez que muitos heterossexuais e homossexuais os veem como participantes frequentes de ménage à trois, o que resultou no apelido de "unicórnios sexuais". De acordo com Vito, o preconceito que relaciona doenças a pessoas LGBT+ remonta à Idade Média, quando a Igreja Católica os considerava seres demoníacos.
Ele ainda afirma que no século passado, a comunidade LGBT+ foi erroneamente associada a doenças físicas, em parte devido à epidemia de HIV.
Dados surpreendentes
Os números do Unaids são reveladores. Em 2022, o Brasil registrou 15,4 mil diagnósticos de Aids, dos quais apenas 368 eram de pessoas bissexuais.
Desde o início da coleta de dados em 1980, mais de 1 milhão de diagnósticos de Aids foram notificados no Brasil.
Destes, 52,9 mil eram de pessoas bissexuais, 133,7 mil de homossexuais e 406,2 mil de heterossexuais. Portanto, os bissexuais representam a menor proporção de diagnósticos em comparação com outras orientações sexuais.