Cientistas da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp) financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) identificaram variantes do vírus da raiva em morcegos e saguis no estado do Ceará. Essas variantes apresentam semelhanças notáveis com as encontradas em saguis-de-tufo-branco, levantando sérias preocupações sobre a circulação do vírus, que é fatal para os seres humanos.

Uma descoberta intrigante

O estudo, cujos resultados foram publicados no Journal of Medical Virology, revela que as variantes do vírus da raiva encontradas em morcegos são intimamente relacionadas às encontradas nos saguis analisados.

Além disso, a pesquisa desafia a crença anterior de que apenas morcegos hematófagos, que se alimentam de sangue, são hospedeiros e transmissores desse vírus mortal. O vírus da raiva também foi detectado em espécies frugívoras e insetívoras de morcegos, uma descoberta que amplia o entendimento sobre a transmissão do vírus.

Os riscos à saúde humana

A presença dessas variantes do vírus da raiva no Ceará levanta preocupações significativas para a Saúde humana. Até agosto deste ano, sete casos de saguis positivos para raiva foram confirmados no estado. O histórico de agressões a humanos por saguis e mortes por raiva no Ceará é alarmante, com casos que remontam a 1991, quando o estado registrou o primeiro caso de morte por raiva associada a um sagui.

A infecção pelo vírus da raiva pode causar encefalite progressiva, levando à morte em quase 100% dos casos.

A importância da prevenção

É fundamental que a população evite o contato com morcegos e outros mamíferos selvagens, e qualquer descoberta de animais mortos deve ser notificada aos serviços de zoonoses locais para análise.

Aqueles que tiveram contato direto com esses animais devem buscar atendimento médico imediato para a administração do soro e da vacina antirrábicos, pois o tempo de incubação do vírus da raiva é de cerca de 45 dias, e o tratamento adequado é essencial para a sobrevivência.

A investigação científica

Para chegar a essas conclusões preocupantes, os cientistas sequenciaram o material genético de 144 amostras de tecido cerebral de morcegos pertencentes a 15 espécies.

As amostras foram coletadas no Lacen do Ceará como parte de um programa de vigilância epidemiológica. As sequências genéticas do vírus da raiva foram comparadas com outras disponíveis em bancos de dados públicos, revelando a proximidade evolutiva entre algumas variantes e as encontradas nos saguis-do-tufo-branco do Nordeste brasileiro.