A BBC News Brasil ouviu especialistas na área de segurança pública que apontaram três principais erros que, de acordo com eles, teriam levado à invasão do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF). No domingo (8), milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ocuparam a Esplanada dos Ministérios, área central de Brasília, e invadiram os prédios sedes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

A invasão ocorreu depois de várias convocações realizadas em grupos de aplicativos de mensagens como o WhatsApp. Os invasores, que não aceitam a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pediam o fechamento do Congresso Nacional e intervenção militar.

Em resposta, o presidente Lula anunciou no domingo uma intervenção federal na área de Segurança Pública do Distrito Federal (DF). Para chegarem até os prédios, os invasores enfrentaram agentes da Polícia Militar (PM) e as equipes de segurança do Supremo, Congresso Nacional e Palácio do Planalto.

Como mostrado por imagens e relatos realizados por emissoras de televisão como GloboNews, os apoiadores do ex-presidente Bolsonaro danificaram diversas áreas das sedes dos três Poderes.

A invasão, entretanto, ocorreu em uma das áreas que deveriam ser uma das mais bem guardadas do Brasil.

Alertas não ouvidos

A possibilidade de invasão aos prédios da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes já estava circulando nos grupos de WhatsApp bolsonaristas ao menos há quatro dias. Várias convocações foram realizadas nas redes sociais e havia a expectativa de que dezenas de ônibus com bolsonaristas chegassem à capital do país no último fim de semana.

A BBC News Brasil conseguiu acessar um vídeo que estava circulando em um desses grupos de WhatsApp e havia uma convocação explícita para a invasão. Arthur Rodrigues, ex-secretário de segurança pública do DF, afirmou que houve negligência das forças de segurança relacionada com o tamanho das manifestações.

O ex-secretário afirmou que a manifestação era de conhecimento público, que se sabia há muito tempo da possibilidade de haver tumultos e que o efetivo colocado à disposição não foi condizente com “o tamanho da mobilização”.

Cássio Rosa, o presidente do conselho de administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), afirmou que o aparato de segurança disponibilizado pelo Governo do DF não era adequado para as dimensões da manifestação. A PM da localidade é muito bem treinada para lidar com multidões e, caso o número de agentes da corporação fosse compatível, dificilmente este tipo de invasão teria ocorrido, afirmou o especialista. A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) foi procurada e não respondeu aos questionamentos da BBC News Brasil.

Outro elemento apontado pelos especialistas foi a demora na resposta das tropas da Força Nacional. No último sábado (7), o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), anunciou a autorização da utilização da Força para garantir a segurança na Esplanada dos Ministérios em função dos protestos convocados pelos bolsonaristas.

Para o ex-policial civil Guaracy Mingard, cientista político e integrante do FBSP, aconteceu uma demora na utilização das tropas. O Ministério da Justiça foi questionado sobre as afirmações dos especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, porém o órgão não respondeu aos questionamentos até a publicação da matéria.

Acampamentos

Outro ponto que os especialistas chamaram a atenção foi a leniência com que os bolsonaristas acampados em frente ao Quartel General do Exército foram tratados, além dos bolsonaristas que participaram de atos antidemocráticos nas últimas semanas.

No dia 12 de dezembro de 2022, o dia em que ocorreu a diplomação do presidente Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um grupo de apoiadores de Bolsonaro colocou fogo em automóveis e também tentou invadir a sede da PF em Brasília.