A Honda, finalmente, inicia nesta semana as vendas da nova geração do Civic. O sedã cresceu por fora e por dentro, ganhou novas tecnologias e estreia a motorização turboalimentada (1.5 litro 16V) de 173 cv, que chega combinada à transmissão automática de variação contínua (CVT). Os preços foram à estratosfera e, se há três anos e meio, quando seu antecessor foi lançado, dava para levar o modelo topo de linha para casa com menos de R$ 84 mil, hoje o consumidor terá que desembolsar R$ 125 mil pela versão Touring. Já a versão básica, que passa a se chamar Sport, agora parte de R$ 87.900 ou R$ 21 mil a mais.

Estreamos uma nova plataforma e realinhamos a gama com mais opções, cada uma delas pensada para um perfil de comprador”, pontua o vice-presidente da subsidiária latino-americana, Roberto Akiyama.

Por trás deste discurso, a montadora apenas corre atrás do tempo perdido, afinal, há três anos, o Civic era o líder de vendas entre os sedãs médios, com média comercial de 5.000 unidades mensais. Em 2013, o modelo respondia por 26% das vendas do segmento, participação que caiu para 18,7%, em 2015, e para 11,5% nos primeiros sete meses deste ano. A Honda quer saltar da média atual de vendas de pouco mais de 1.300 unidades para 3.000 unidades, o que seria até plausível se a categoria não tivesse encolhido 27%, só entre janeiro e julho.

Pior, a chegada da nova geração do Chevrolet Cruze elevou a participação do sedã da General Motors de 6,1% para 9,8% – isso, só no seu primeiro mês de vendas. Vale citar que a maioria das novidades que o Civic 2017 oferece, só na sua caríssima versão topo de linha, estão disponíveis para o novo Cruze desde sua opção mais acessível.

E enquanto a Honda justifica o aumento do catálogo mais avançado com um novo pacote técnico, além do implemento de recursos até então inéditos, o modelo de entrada não consegue inocentá-la do pecado capital da ganância.

Sobrepreço

Na verdade, a Honda trabalha com duas variáveis que poderiam ser chamadas de “infalíveis”, no Brasil: a primeira é a vocação natural do brasileiro para aceitar o sobrepreço e, a segunda, a capacidade de produção bastante limitada da fábrica de Sumaré (SP).

De um lado, um cliente que parece se orgulhar de pagar caro por um produto que, nos Estados Unidos, é carro de jardineiro. Do outro, a baixa oferta que, de acordo com os cânones da Economia, impacta nos preços. Esta combinação de fatores permite que ela recomponha sua margem de lucro, voltando a contabilizar os mesmos ganhos da época das vacas gordas.

O que os ineptos que deram sinal de 10% para serem os primeiros figurantes a bordo do novo Civic não sabem é que, nos EUA, onde o poder aquisitivo é mais de três vezes superior ao nosso, a versão Touring traz conteúdos que foram descartados para o Brasil, como o pacote Sensing, por um valor 30% menor. O Sensing inclui piloto automático adaptativo (ACC) e Low-Speed Follow , que segue o veículo da frente nos congestionamentos, assistente de estacionamento que faz balizas sozinho e uma novidade capaz de manter o carro dentro da faixa de rolamento, corrigindo a direção (LKAS) automaticamente em caso de desvio involuntário.

Isso tudo pelo equivalente a R$ 85.700 – ou seja, menos que a versão básica, aqui.

Para os parvos tupiniquins, a Honda alega que o LKAS poderia levar a acidentes com motociclistas e que, por uma questão de segurança, o descartou – e ainda tem gente, supostamente inteligente, que cai nessa conversa. É como diz o ditado: “chapéu de otário é marreta”...