Antônio Carlos Moraes Pires, mais conhecido como o alegre e efusivo cantor Moraes Moreira, morreu ontem, dia 13/04/2020 por volta das 6 horas da manhã. A causa oficial de seu falecimento foi infarto agudo do miocárdio.
Quem o encontrou assim foi sua empregada, abrindo a porta do apartamento do cantor e viu que ele já estava morto. Ele morava no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro e tinha 72 anos.
Contagiante com sua Música e de personalidade extrovertida, seu velório e seu enterro não serão comunicados pela família, já que a mesma pede para que os fãs não se aglomerem, evitando a propagação do coronavírus.
Para os membros da família do compositor baiano, os admiradores e o povo devem reverenciá-lo ouvindo seus discos e sua obra.
Desconcertante
É difícil pensar que um artista tão próximo do público, se afaste dele no último e derradeiro momento vivido. Assim também se pode constatar no depoimento de seu amigo e companheiro de banda nos “Novos Baianos”, Paulinho Boca de Cantor: “a gente se falava todos os dias e perguntava como o outro estava. Ele sempre estava bem, os exames estavam bons e ele dizia: ‘o coração está bom, o fígado está bom, eu fiz isso’”.
Embora emocionado pela ida do companheiro musical, Paulinho ressaltou os tempos de alegria compartilhados durante os anos e complementou: “Nós somos os Novos Baianos, mas eu gostaria até de brincar e dizer, somos usados.
Usados baianos. Porque a gente vive intensamente. O Moraes viveu intensamente: a música, a festa, a alegria, o carnaval.”
Sua última apresentação nos palcos foi exatamente há um mês, no Rio de Janeiro, desfilando um repertório no qual cantava e interpretava canções de outros compositores que o influenciou em sua carreira.
Pequena biografia
Nascido em 1947, o baiano de Ituaçu veio para Salvador no meio dos anos 60, onde conheceu todos os outros companheiros que, mais tarde, formariam um dos grupos de música mais inovadores da época: os Novos Baianos. O primeiro disco, ao lado de Pepeu Gomes, Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Baby do Brasil, foi lançado em 1970.
Dois anos depois, viria a obra-prima “Acabou Chorare”, eleito pela revista “Rolling Stone” como o melhor álbum de MPB, após enquete realizada com especialistas e críticos musicais.
Moraes permaneceria na banda até 1974, quando sai e descobre outra vertente que, posteriormente, seria a consagração de qualquer carnaval. Ele seria o primeiro cantor a incentivar e cantar sobre um trio elétrico. Na época, os trios de Salvador só tocavam canções instrumentais.
Ao longo de sua caminhada artística, Moraes Moreira produziu 27 discos solo e mais alguns compartilhados com Pepeu Gomes e com o próprio filho, Davi Moraes. Seu repertório inclui cerca de 500 composições, gravadas por cantores como Ney Matogrosso, Gal Costa, Marisa Monte e Maria Bethânia.
Entre os sucessos cantados por ele e por outros estão: “Pombo Correio”, “Acabou Chorare”, “Besta é tu”, “Bloco do Prazer”, “A Menina dança”, “Festa do Interior” e “Sintonia”.
Hábil na caneta e no papel, Moraes se aventurou pelas letras e lançou dois livros: “O poeta não tem idade” e “A História dos Novos Baianos e Outros Versos”. Puxando sua veia nordestina, Moraes Moreira escrevia cordel e, em retribuição, a Academia Brasileira de Literatura de Cordel o agraciou com a cadeira de número 38.
A partir de 2016, Moraes e seus amigos de “Novos Baianos” voltaram à estrada e fizeram diversos shows pelo Brasil, com muito êxito entre o público. Durante esse giro pelo país, ele comentava com seus companheiros de voz, nos bastidores, a intenção de gravar um novo disco dos “Novos Baianos”.
No entanto, seu último trabalho foi solo e lançado em 2018, o disco “Ser Tão”.
Sua última postagem em rede social foi um poema composto por ele e intitulado de “Sombra”: “Nem tudo aquilo que assombra/À escuridão nos reduz/Ouvi dizer que onde há sombra/É certo que haverá luz.”
Curiosidades
Quando jovem, Moraes Moreira queria estudar Medicina e, para se manter na pensão onde morava em Salvador, arranjou um emprego de bancário. Na capital baiana, conheceu Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Tom Zé. Nestes encontros, a rota profissional do baiano do interior teria uma mudança.
Logo que chegaram ao Rio de Janeiro, Moraes e os Novos Baianos não tinham habitação e a única forma de solucionar isso foi morar dentro de um carro por três meses até alugarem um apartamento em Botafogo.
Segundo ele, eram oito pessoas que dividiam o espaço do carro para dormir.
Apesar de te vivido em cidades litorâneas na maior parte da sua vida, o cantor tinha medo do mar e não sabia nadar. Foi aos 15 anos que conheceu o oceano e se assustou com sua imensidão.
Em entrevista a um jornal, Moraes Moreira revelou que tinha 20 canções inéditas e pretendia cantá-las em algum show de 2020. Infelizmente não deu tempo, mas não importa, pois sua marca fica para sempre reconhecida como uma das obras mais originais e ricas da música popular brasileira.