Na última quarta-feira (8), estreou na Netflix a minissérie "Estado Zero" (Stateless). A obra tem a produção de Cate Blanchett e conta a história de quatro personagens que, de maneiras diferentes, enfrentam os problemas encontrados no sistema de imigração da Austrália.

Entre estes personagens está Sofie Werner (Yvonne Strahovski). A personagem é uma comissária de bordo que se envolveu em um culto e, depois de uma experiência traumática, foge e vai parar em um centro de detenção para imigrantes. Mesmo sendo uma cidadã australiana, ela é confundida com uma estrangeira.

A trama vista na produção da Netflix não é fiel à história real.

Cornelia Rau

A personagem Sofie é inspirada na alemã-australiana Cornelia Rau. Na vida real, a residente permanente australiana foi detida de maneira ilegal pelo programa de detenção obrigatório da Austrália. Nascida na Alemanha, Cornelia chegou à Austrália em 1967, com apenas 18 meses.

No final da década de 1990, Rau entrou para um culto chamado Kenja Comunications, que tinha como fundadores o casal Ken Dyers e Jan Hamilto. Cornelia Rau foi expulsa da organização. Na minissérie, o culto ganhou o nome de “GOPA” e o casal de fundadores é vivido por Cate Blanchett e Dominic West.

Nos seis anos após sua expulsão do culto, Cornelia foi hospitalizada diversas vezes, tendo sido diagnosticada com transtorno bipolar e esquizofrenia.

Ela apresentou várias vezes comportamento instável e chegou a desaparecer por curtos períodos de tempo, mas quase sempre entrava em contato com a família.

Depois que o hospital e a família de Cornelia deram início ao processo que a obrigaria a tomar um medicamento que ela não queria tomar, assim que teve alta do hospital ela desapareceu.

Porém, os moradores demonstraram preocupação com a segurança dela e entraram em contato com a polícia.

Anna

Cornelia usou então o nome de “Anna” e vários sobrenomes alemães. Ela dizia que era uma turista de Munique, mas não convenceu as pessoas e alterou várias vezes a história. Apesar de mostrar claramente um comportamento instável, a polícia procurou o DIMIA (Departamento de Imigração e Assuntos Multiculturais e Indígenas), que a deteve como "suspeita de ser não-cidadã ilegal".

Isso fez com que ela acabasse indo parar no Centro Correcional de Mulheres de Brisbane. Nesta prisão ela ficou detida ao lado de criminosos condenados. Sua saúde mental estava piorando e ela se recusava a revelar quem ela realmente era. Mesmo com as evidências de que sua saúde mental estava debilitada e os fatos estranhos de sua história, estas pistas foram totalmente ignoradas.

Cornelia acabou sendo transferida para a Baxter Detention Center, localizada no interior da Austrália Meridional, a organização era uma instalação para "não-cidadãos ilegais" (UNCs). Os membros do consulado da Alemanha não conseguiram identificá-la, mas ressaltaram que ela tinha habilidades no idioma alemão similares às de uma criança.

Eles acreditavam que ela era uma australiana com formação em alemão.

Ainda que a polícia tenha entrado em contato com o Departamento de Imigração após a família de Cornelia ter informado que ela desapareceu, os agentes da lei não fizeram a conexão. Em janeiro de 2005, o jornal The Age publicou uma matéria sobre uma mulher misteriosa no centro de detenção. Pamela Curr, do Centro de Recursos para Requerentes de Asilo de Melbourne, contou que as outras pessoas ali detidas acreditavam que Rau era uma doente mental.

Amigos da família de Cornelia leram o artigo e suspeitaram que a mulher misteriosa se tratava, na verdade, de Cornelia Rau. Cinco dias após a revelação de sua verdadeira identidade, ela foi levada de volta ao hospital em que havia feito tratamento.

Sua irmã, Chris Rau, afirmou que Cornelia ficou no centro de detenção por causa de uma doença mental. Cornelia não tem recordação dos seis meses que passou na prisão de Brisbane e nem dos quatro meses em Baxter. Na maior parte do tempo, ela esteve em confinamento.

Barton

O Centro de Detenção Barton que é visto na minissérie não é um lugar real. A instalação foi inspirada em vários centros de detenção que existem na Austrália. Cornelia esteve no Centro de Processamento e Recepção de Imigração Baxter, que era administrado por uma empresa privada chamada GSL Australia. Na produção o nome da empresa é Korvo Security Group.

Baxter foi inaugurado em 2002, mas fechou as portas cinco anos depois, pois a construção de outro centro de detenção mais bem equipado o tornou obsoleto.

Em seu auge, Baxter abrigou centenas de requerentes de asilo e também imigrantes. Em seus cinco anos de funcionamento, houve várias controvérsias no local, tendo sido alvo de protestos, tumultos e incidentes criminosos. A Austrália tem uma política de detenção obrigatória para os requerentes de asilo, nestes centros, eles acabam tendo que esperar uma decisão por seu destino, e este processo podem levar anos.