Enfim, a Travessia vai chegando ao seu término, alcançando o ápice destino com festa de aniversário em plena turnê de apresentações.

O carioca mais mineiro do mundo da Música completou, na última quarta-feira, 26/10, seus 80 anos. Milton Nascimento, um ícone da Música Popular Brasileira e reverenciado no Exterior apaga as velinhas do bolo para, depois, fazer sua última apresentação em 13 de novembro, no Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte.

A turnê foi batizada com o nome de “A Última Sessão de Música”, numa referência a sua retirada dos palcos artísticos.

“Voz de Deus”

Elis Regina assim descreveu Milton Nascimento e foi uma das primeiras cantoras a gravar suas composições. Revelado no Segundo Festival Internacional da Canção Popular, em 1967, “Bituca” (seu apelido) cantou “Travessia” e ficou em segundo lugar.

De lá para cá, foram 32 álbuns de estúdio dentro de uma carreira desenvolvida por seis décadas. Nascido no Rio de Janeiro, ele foi muito cedo para as Minas Gerais, já que perdeu sua mãe aos dois anos de idade. Morou em Juiz de Fora e em Três Pontas.

Com apenas 13 anos, conhece o companheiro profissional e amigo Wagner Tiso; os dois fundam o primeiro conjunto musical “Luar de Prata”.

Os anos 60 são marcados por conhecer a família Borges, parceira musical, a mudança para Belo Horizonte e a participação em festivais.

Logo após a realização do II Festival Internacional da Canção Popular, Mílton grava seu primeiro disco.

Em 1968, o cantor embarca na carreira internacional, com o lançamento de outro álbum: “Courage”. Quatro anos depois vem o aclamado “Clube da Esquina”. Nele, Milton Nascimento faz uma homenagem a sua madrinha, Lília, que o adotou e o criou após a morte prematura da mãe biológica.

Na década de 70, “Bituca” lança obras como “Fé cega, Faca amolada” e “Ponta de Areia”. Sua latinidade fica mais clara nessa época. Convida a cantora argentina Mercedes Sosa para gravarem uma música no disco “Geraes”, de 1976.

Em 1978, chama vários intérpretes como Flávio Venturini, Chico Buarque, Joyce, Francis Hime, Lô Borges e Boca Livre para participarem do “Clube da Esquina 2”.

Durante o período de 1998 a 2000, “Bituca” recebe duas premiações do Grammy. Agora o ano de 2022 representa a coincidência numérica dos 50 anos do lançamento de “Clube da Esquina”.

Sem palavras

Vivendo esta onda de emoções nos últimos meses, Milton Nascimento disse: “Nem tenho palavras para dizer o quanto isso tem me deixado feliz. Então eu só tenho a agradecer por tudo que a vida tem nos proporcionado neste ano da minha despedida dos palcos. Mas, como eu tenho dito sempre, me despeço dos palcos, da música jamais.”

Sua agenda está repleta de shows realizados dentro e fora do Brasil, marcados pela comoção, alegria e interação com o público. “Bituca” já se apresentou, por exemplo, no Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo e Recife.

E aproveitou para fazer um giro nos Estados Unidos, Portugal, Inglaterra, Itália e Espanha. Em todos os lugares, recebeu o carinho do público.

Ele sentiu o mesmo afeto pelas redes sociais, vindo de artistas como Paula Lima, Fito Páez, Letícia Sabatella e Henrique Portugal (do grupo mineiro “Skank”).

Segredinho mineiro?

A pouco menos de um mês de se afastar dos palcos, rolam alguns boatos sobre o show do Mineirão: muitos participantes do “Clube da Esquina” devem dividir o espaço central com Mílton. Também cogita-se o lançamento de um DVD especial sobre o show, mas até o momento, não há confirmação acerca disso proveniente da assessoria de imprensa do cantor.

O que não se configura mais como segredo é a história do apelido do artista carioca, mas “mineiro de coração”: “Bituca” foi criado durante a infância de Mílton, a qual foi passada em Três Pontas.

Toda vez que ele era contrariado pelos colegas, o menino fazia um bico evidente. Daí surgiu o apelido.

Perguntado sobre a apresentação no Mineirão, Mílton Nascimento responde que o coração está “batendo forte desde já, claro. Vai ser uma coisa muito forte reunir todo mundo em BH, onde praticamente tudo começou.” O cantor receberá o apoio e a direção musical do filho, Augusto, o qual já está preparando tudo com antecedência.

As Marias, Marias com Coração de Estudante não vão conseguir se segurar Nos Bailes da Vida, ouvindo bem à sua frente a cantoria da “Voz de Deus”.