Para aqueles que trabalham na avenida Paulista e gostariam de sair da rotina de ver paisagens marcadas por arranha-céus, vidros e concreto, a Casa das Rosas se constitui num dos poucos oásis que lembram os áureos tempos dos barões do café.

Seu morador mais ilustre foi o arquiteto Ramos de Azevedo, cujas gerações posteriores habitaram os dois andares da residência até meados dos anos 1980. O projeto foi idealizado pelo próprio Ramos em 1928 e sete anos depois estava prontinho para abrir as portas e janelas como moradia e descanso.

Quem visita a propriedade, reconhece: o autor de outras obras arquitetônicas como o Mercado Municipal e o Teatro Municipal merecia esse mimo para chamar de seu.

Desocupada pelos herdeiros, a Casa das Rosas ficou fechada por um tempo. Agraciada pelo tombamento do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) em 1985, ela passou por uma primeira restauração por dez anos.

Nova função

A Casa das Rosas foi aberta oficialmente em 2004 para o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, abrigando uma quantidade aproximada de 20 mil livros. Aliás, esse acervo pertenceu ao próprio Haroldo, poeta concretista.

Mas, a ação implacável do tempo e o ritmo frenético da metrópole paulistana fizeram com que esse lindo e original espaço ficasse fechado por dois anos. Sinal de que era preciso uma restauração.

Durante o último fim de semana (28/10), a Casa das Rosas reabriu de pétalas abertas com novidades que o público de escritórios, turistas, visitantes e curiosos podem conferir ou matar a saudade.

O governo do estado de São Paulo gastou R$ 4,2 milhões na obra e caprichou nessa restauração, pois, de acordo com o diretor da casa-museu, Marcelo Tápia, ela “renasce com suas características originais visíveis e recuperadas.”

Entre as melhorias e as reformas executadas, listam-se o tratamento de infiltrações e rachaduras, mudanças nos sistemas elétrico e hidráulico e recuperação de elementos que visam a resgatar o aspecto original dos aposentos da casa como, por exemplo, os papéis de parede.

Além disso, as gárgulas e os adornos metálicos situados no teto deste espaço cultural também foram restaurados.

Adicionando benefícios para todos

Como a pá e a colher de pedreiro estavam ativas, aproveitou-se esse lapso de 2 anos para promover mais acessibilidade: puseram-se placas em Braille, piso tátil, corrimãos duplos e rampa de acesso ao museu.

O banheiro do andar térreo se encontra disponível para utilização, num gesto que confirma a inclusão social e a vontade manifestada de que pessoas deficientes possam frequentar o local.

Os que possuem algum tipo de mobilidade reduzida e quiserem visitar a biblioteca que, agora, localiza-se no subsolo, podem dispor de um elevador.

Segundo Marcelo Tápia, cada cômodo da casa possui uma placa informativa, descrevendo sua utilização na época em que foi uma residência.

Na inauguração deste ano de 2023, a Casa das Rosas ganha em versatilidade cultural: sem abrir mão de sua vocação literária e poética, ela abrigará nessa nova fase duas exposições voltadas às artes visuais e outras identidades artísticas.

Com o nome único de “Vivências do Novo”, a mostra foi dividida em duas partes: a primeira é apresentada no andar térreo da casa. Aí podem-se ver/conferir imagens da transformação da avenida Paulista ao longo dos anos, bem como dos usos efetuados da própria Casa das Rosas.

Por sua vez, no andar de cima, a subdivisão batizada de “Dimensão Cidade” reúne obras de 15 artistas que exploram desde gravura até a linguagem das mídias audiovisuais. A faixa etária desse grupo de autores varia de 29 a 92 anos.

A comemoração continua até o mês de novembro, quando estão previstas rodas de bate-papo, visitas guiadas, performances e intervenções. Até um poema inédito mostrado num painel de “led” de Augusto de Campos está dentro do ambiente recém-inaugurado.

Vale lembrar que Augusto é irmão de Haroldo de Campos.

Por último e não menos importante e feliz lembrete: toda a programação da “nova” Casa das Rosas é gratuita. Mesmo que não se tenha vontade de ver as exposições, só o jardim e a fonte próximos a esse espaço charmoso já valem a pena. No meio da selva de pedra que toma conta da avenida Paulista, sobram alguns (poucos) resquícios de como ela era mais calma e bucólica. E menos cinzenta.