Uma das obras mais conhecidas do pintor holandês Vincent Van Gogh é, com certeza, a pintura ''Noite Estrelada'', que data de 1889. Esta tela foi terminada apenas um ano antes da morte de Van Gogh, em 1890, em decorrência de uma tentativa de suicídio, com um tiro disparado contra seu próprio peito.

Van Gogh sofria de diversos transtornos psiquiátricos, e suas pinturas refletem, em sua maioria, sentimentos de melancolia e sofrimento. Algumas fases da obra do pintor, no entanto, se mostram mais luminosas, como por exemplo no quadro ''Doze Girassóis numa Jarra'', também de 1889.

A pintura ''Noite Estrelada'' pode ser incluída em uma dessas fases mais ''luminosas''.

Mas existe algo ainda mais intrigante do que toda a expressão criativa e sentimental nas obras de Vincent Van Gogh: seu quadro mais famoso pode ter antecipado a descoberta de conhecimentos científicos, mais especificamente na área da física.''Noite Estrelada'' tem sido exposto em museus e exposições há mais de 125 anos, e observado por diversas pessoas. No entanto, este detalhe passou despercebido a maior parte do tempo.

À época em que o quadro foi pintado, Van Gogh encontrava-se internado em um asilo na França, após ter cortado sua orelha em um surto psicótico - ou perdê-la em um duelo de espadas no escuro com seu amigo Paul Gauguin, como dizem alguns -, episódio bastante conhecido da vida do pintor.

A pintura parece representar um dos conceitos mais dúbios da Ciência: a turbulência.

Mas o que é a turbulência?

Antes de mais nada, você deve saber que o conceito da turbulência - ou fluxo turbulento - é ainda hoje, de difícil entendimento matemático, muito embora pareça simples quando exemplificado através da arte.

A turbulência é um conceito da mecânica de fluidos, onde os movimentos dos mesmos se misturam de forma não-linear, em forma de uma espécie de cascata de energia ou, numa linguagem mais simples, em redemoinhos, que vão em oposição ao fluxo dos fluidos.

A primeira pessoa a ter algum sucesso na explicação do conceito do fluxo turbulento foi o matemático soviético Andrey Kolmogorov, em 1945 - 60 anos após Van Gogh ter pintado ''Noite Estrelada''. As teorias de Andrey falavam sobre a potência dos redemoinhos e a distribuição de energia que gerava essas cascatas energéticas.

Esses turbilhões de energia geram o efeito circular mostrado na obra de Van Gogh.

Veja o gif abaixo para entender melhor a dinâmica desse movimento retratado por Van Gogh:

Van Gogh reproduziu, à tinta, os movimentos dos fluidos e do ar em uma turbulência. Este fenômeno físico ocorre na água - quando um navio aciona sua hélice na água, por exemplo - ou no ar - como no voo de um avião.

Na época em que o quadro foi pintado, os cientistas estavam apenas começando a entender este conceito, Van Gogh poderia ter sido, então, a primeira pessoa a compreender o fenômeno.

Cientificamente, o fenômeno está tão bem representado, que é quase impossível que tenha sido feito ao acaso.

Em 2004, cientistas detectaram, através do telescópio espacial Hubble, uma nuvem de poeira e gás ao redor de uma estrela, movendo-se em turbilhões, e seu comportamento os fez lembrar imediatamente da pintura de Van Gogh.

Coincidentemente, ou talvez não, muitas pinturas do período psicótico do pintor representam com precisão a turbulência de fluidos.

Talvez Van Gogh, em uma de suas fases de maior fragilidade emocional tenha sido a primeira pessoa a entender um dos maiores mistérios científicos da época, e retratá-lo em uma de suas obras mais famosas. Isso com certeza reforça a ideia de que este artista tenha sido, de fato, uma mente à frente do seu tempo, não somente no campo da arte, mas de modo geral.