A prostituição não é exatamente um fenômeno inaudito. Praticamente toda cidade tem profissionais do sexo e espaços onde eles se concentram, recebem clientes e exercem sua estigmatizada profissão. Lagos, capital da Nigéria, contudo, abriga uma forma inusitada de prostituição. Em um bairro da cidade africana, atuam mulheres que cobram uma média de dois dólares por programa, atendem por volta de cinco clientes por dia e... muitas delas são portadoras do vírus HIV, causador da AIDS. Por motivos bastante óbvios, o fato rendeu a essas mulheres o apelido "anjas da morte".
A AIDS é um problema de largas proporções na Nigéria bem como em muitos outros países do continente. Estima-se que dos cerca de vinte milhões de habitantes de Lagos, um milhão e duzentos mil sejam portadores do HIV. Embora a porcentagem de adultos infectados pelo HIV (pouco superior a três por cento) seja bem menor que a porcentagem apresentada por outras nações subsaarianas, tais como Zâmbia e África do Sul (aquele com mais de um oitavo da população contaminada pelo HIV e esta com quase um quinto da população na mesma situação), entre as profissionais do sexo, o grau disseminação que o vírus já alcançou é enorme. Um estudo realizado há três anos concluiu que um quarto das prostitutas nigerianas carregam o vírus causador da AIDS.
Para piorar a situação, a Organização das Nações Unidas afirma que, de cada cinco habitantes do continente africano infectados pelo vírus, quatro não conseguem acesso ao tratamento médico.
O fotógrafo Ton Koene visitou Badia, um bairro pobre da capital, cujo nome é uma contração de "bad area" ("área ruim" em inglês) e onde atuam muitas dessas mulheres e tirou fotos que mostram a situação em que vive a população local, inclusive as prostitutas.
Vítimas frequentes de crimes como estupro, furto e sequestro, algumas das fazem vaquinhas para poder arranjar um espaço no qual possam atuar e contratar alguém para guardar o local. Há prostitutas que atuam no bairro que tem quatorze anos de idade. O alto grau de disseminação do vírus HIV na região é tão grande e tão conhecido que inspirou o taxista que levou Koene ao local a brincar insensivelmente que é possível sentir o cheiro do vírus no local.
Segundo o fotógrafo, os nigerianos enfrentam a escassez de muitos itens, mas o chamado humor negro não está entre esses itens.
Koene diz que a beleza e a juventude de uma prostituta determinam quão caros são os serviços que ela presta. Segundo ele, os homens andam pelo local com a despreocupação de quem está caminhando por uma padaria. Depois de uns cinco minutos, eles deixam o aposento com o zíper das calças ainda aberto. As prostitutas mais jovens e bonitas podem conseguir entre cinquenta e cem euros (entre cento e noventa e trezentos e oitenta reais aproximadamente) por programa e atendem no hotel ou residência do cliente.