O rosto da Cleópatra, a famosa rainha do Egito, é muito diferente da representação ocidental que estamos tão familiarizados, imortalizada no clássico filme de 1963 estrelado por Elizabeth Taylor. O cabelo liso com franja e uma pele clara com olhos marcantes, a última rainha do Egito era, na verdade, o oposto dos padrões descritos. É o que mostram estudos da Universidade de Cambridge na Inglaterra.
Baseando-se em gravuras de moedas antigas, esculturas e reproduções de decorações de diversos templos da cidade de Dendera, cidade a Oeste do Rio Nilo, a egiptóloga Sally-Ann Ashton recriou as verdadeiras feições da rainha. De acordo com suas conclusões, Cleópatra media 1,52 metro de altura, tinha uma pele distintamente escura e estava ligeiramente acima do peso. Seu rosto se caracterizava por ter um nariz adunco, lábios finos, queixo pontudo e cabelos encaracolados.
Os dados desse estudo divulgado em 2008 coincidem com os escritos do historiador grego Plutarco. Segundo ele, a rainha não detinha atributos físicos, mas se valia de outros artifícios para alcançar seus objetivos.
Cleópatra estava longe de ser apenas uma mulher fútil, vaidosa e entregue aos prazeres da vida.
A lenda da beleza de Cleópatra
Que Cleópatra tornou-se um ícone de beleza e inspiração para inúmeras obras de arte ao longo da história, isso já sabemos. Seus encantos cativaram vários homens, entre os quais dois dos mais poderosos de seu tempo, o general romano Júlio César e seu protegido e sucessor, Marco Antônio. Mas, além dessa imagem de "a bela e vaidosa rainha do Egito", reconhece-se também que ela era ameaçadoramente inteligente e independente.
Mas por que a história optou por retratá-la apenas como uma mulher muito bonita e sedutora em vez de enfatizar sua intrigante personalidade de mulher de negócios?
“Foi sempre preferível atribuir o sucesso de uma mulher a sua beleza do que a sua inteligência”, diz a autora Stacy Schiff no livro “Cleópatra – Uma Biografia”.
A ideia de que a mulher pudesse ser poderosa a ponto de governar independentemente uma nação inteira nunca foi bem aceita pela sociedade, e todos os estudos eram influenciados por esta visão. Dessa forma, concluía-se que seu poder era proveniente apenas de seus atributos físicos, deixando de lado sua capacidade intelectual, estratégica e visionária.
Com a divulgação do rosto bem diferente do retratado no mundo ocidental, pode-se destacar que na verdade seu poder de sedução estava fortemente relacionado a sua inteligência e capacidade de articulação.
Embora sua beleza fosse notável, esse não deveria ser o foco como foi retratado até hoje. A mulher desavergonhadamente sexual, de acordo com a construção que lhe foi dada pela história e pelas artes, era, na verdade, um genuíno ser político. Poder era o seu afrodisíaco.