Os produtores de arroz do Rio Grande do Sul, estado onde concentra a maior safra de arroz do Brasil, foram ouvidos pela Folha de S.Paulo e informaram que a disparada no preço do produto se configura no resultado de uma "tempestade perfeita".
De acordo com os produtores, no mínimo três fatores contribuíram para a situação atual que o país vive. Primeiro foi a baixa do preço do produto nos últimos anos, provocando o encolhimento da produção; em segundo está o avanço da pandemia, que provocou um aumento de mudanças significativas no mercado externo (aumento das exportações) e, em terceiro, está o brasileiro que para fugir da pandemia tem passado mais tempo em casa e, consequentemente, houve um aumento do consumo interno no país.
Segundo os produtores do Rio Grande do Sul, a estimativa é de que sejam semeados cerca de 970 mil hectares entre 2020 e 2021, aumentando a safra em aproximadamente 3,5% em relação à safra anterior.
Pandemia provoca aumento na exportação do arroz
O Comex Stat do Ministério da Economia divulgou dados que informam sobre a exportação do arroz entre os anos de 2019 e meados de 2020. Segundo os dados, em 2019 o Brasil havia exportado cerca de 269.164,9 toneladas do produto, porém a quantidade duplicou nos primeiro semestre de 2020, onde a exportação chegou a 487.428,8 toneladas. Isto se deve ao avanço da Covid-19, que obrigou a praticamente todos os países afetados a aderirem ao isolamento.
Produtor explica que a explosão do preço do arroz
André Ceolin, do Grupo Ceolin, que produz e compra o grão, afirmou que a culpa não é somente da crise sanitária e econômica que o Brasil vive atualmente, mas é resultado de um processo negativo que acontece ao longo de anos e que vem provocando um cenário de endividamento e abandono da lavoura, também devido à falta do lucro devido na negociação do preço do arroz.
Para Ceolin, uma gama de fatores fez explodir o preço do arroz: a desvalorização do Real, o pouco produto no mercado e o aumento do consumo devido à pandemia.
Anterior à pandemia, o Grupo Ceolin vendia em média 80 a 100 mil fardos ao mês. André Ceolin, afirmou que prevê falta de estoque para o final do ano.
Governo tira TEC do arroz, mas mantém em outros produtos, diz produtor
O presidente dos sindicatos rurais de Itaqui e Maçambará, Raul Borges, afirmou que o momento é bom para os grandes conglomerados. Segundo ele, o produtor deveria ter no mínimo uma margem de lucro de 15%.
Borges salientou que, apesar do Governo ter tirado a Tarifa Externa Comum (TEC) do arroz para importação, ainda há outros insumos que cobram a TEC. Borges destacou que há anos os produtores reivindicam essa questão no Mercosul, pois há produtos que não podem ser importados. O objetivo é poder produzir e comprar de forma igualitária, mas isto ainda lhes é negado no Brasil.
Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), divulgados na última quinta-feira (10), a cotação da saca do arroz estava a R$ 105.
O presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados), Ronaldo dos Santos, afirmou que se a saca de arroz do produtor se mantiver em R$ 100, é provável que o arroz chegue ao consumidor no valor de R$ 30, segundo informações do jornal O Estado de S.Paulo.