Espantar-se diante da vida, interrogá-la, é próprio do ser humano. Aqueles que deixam de lado o espanto e a procura estão abrindo mão de sua principal característica enquanto homem: a capacidade de pensar e pensar direito sobre todas as coisas. Dessa forma, fara filosofar, segundo Aristóteles, é preciso “estar admirado com algo”. Assim, a Admiração é a causa primeira do conhecimento humano. Para o autor de O mundo de Sofia, o filósofo e intelectual norueguês, Jostein Gaarder, “a única coisa de que precisamos para nos tornamos bons filósofos é a capacidade de nos admiramos com as coisas”.
Portanto, sem admiração, sem curiosidade, não há conhecimento; do contrário, se estamos acostumados com algo e não pensamos sobre ele, não há filosofia.
Olhe para sua própria vida e perceba que quando você tinha menos idade, mais você se admirava com as coisas e mais queria saber por que eram daquela forma, como funcionavam. Porém, na medida em que você cresceu e acostumou-se com as coisas, deixando de se admirar com elas, deixou também de lado a atitude filosófica. Daí dizer-se que o filósofo é como uma criança vive perguntando por que quer saber cada vez mais.
Filósofos são aqueles que jamais perdem a admiração sobre os grandes ou pequenos segredos do mundo, que passam a vida toda sem deixar se acostumar com as coisas.
A filosofia é, sem dúvida nenhuma, uma aventura. Uma aventura humana sobre o pensamento. Só o ser humano faz filosofia, porque só ele possui a capacidade de atribuir sentido para as coisas e para si mesmo.
A origem do filosofar surge do fato do homem tomar ciência das coisas, de se espantar com as situações, com a vida, com aquilo que nos mexe intimamente.
A filosofia é uma busca de novos mundos, novas perguntas. A admiração inicia, carrega e sustenta a filosofia. O questionamento é sua alma e sua inspiração. Como nos diz Fernando Pessoa: “a coisa é o que é, e é difícil explicar a alguém o quanto isso me alegra, e quanto isso me basta”.
Do espanto e da admiração nasce à indagação.
A indagação, o questionamento filosófico surge, pois, de um sentimento de surpresa, de estupefação e de susto diante do dever das coisas. Diante da realidade que aparece, o filósofo é tomado de espanto e de perguntas: que isto? Por que é assim? Não pode ser diferente? O que é o mundo? Existe vida depois da morte? Quem sou eu?
A atitude filosófica de indagar, na qual nos dirigimos ao mundo que nos cerca, perguntando o porquê das coisas, é central para a filosofia. A capacidade de admiração aliada à indagação leva à atitude crítica. Ter uma atitude filosófica é, acima de tudo, ter uma atitude crítica diante de todas as coisas. Algumas perguntas básicas da filosofia em sua atitude crítica são: O quê?
Por quê? Como? A reflexão, movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo, também é atitude básica da filosofia.
Você ainda tem dúvida que o espanto e admiração estejam na base da filosofia e da atitude filosófica? Então, observe esses exemplos vindos da nossa tão vasta história:
1. Isaac Newton: se espantou com a queda da maçã na sua cabeça e chegou à sua teoria da Lei da Gravidade: dois corpos caem na mesma velocidade, independente do tamanho.
2. Sigmund Freud: Louco para muitos, mas com certeza desconcertante para todos. Uma vida dedicada ao trabalho e à investigação do mais profundo da nossa mente. As suas teorias revolucionaram o nosso século e mudaram a forma como nos vemos a nós próprios.
3. Sócrates, grande filósofo que não se acomodou às imposições do poder, defendeu suas ideias até a morte e dividiu a filosofia antes e depois dele. Também podemos citar Albert Einstein, Gandhi, Martin Luther King e tantos outros.
Todos estes foram grandes homens que se espantaram e questionaram-se, admiraram-se, deixando a acomodação e o conformismo de lado para lançar-se a um mundo de perguntas, do novo, da descoberta e que fizeram girar o mundo e marcaram seus nomes nas páginas da história. Admire-se, viva à vida verdadeira, com Deus, com o outro, com o mundo, consigo mesmo; enfim, seja filósofo, seja você mesmo!