O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou na última quarta-feira (17), no Catar, que não viu as questões do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2021. Na segunda-feira (15), no entanto, o mandatário havia afirmado que as questões do Enem estavam começando a ter a “cara do governo”.

Demissionários

Na semana anterior, servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o órgão encarregado do exame, disseram que foram pressionados psicologicamente, além de terem sofrido vigilância velada na elaboração do Enem deste ano.

A intenção seria que eles evitassem abordar questões polêmicas que pudessem causar incômodo ao governo federal.

Foram 37 servidores que entregaram seus cargos. O exame irá ser realizado no próximo final de semana. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, foi convocado na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados para esclarecer a situação. Ribeiro afirmou na quarta-feira que o Enem se assemelharia ao governo Bolsonaro no sentido da “competência, honestidade e seriedade”, e que não é possível interferir no exame. O ministro da Educação já tem novo encontro marcado com os parlamentares para prestar novos esclarecimentos sobre o Enem, ele será ouvido no dia 8 de dezembro.

Na capital do Catar, Doha, Jair Boslonaro conversou com jornalistas depois de passear de moto.

O líder do Executivo federal fez uma visita ao estádio de futebol Lusail. O Catar será o anfitrião da próxima Copa do Mundo, que irá acontecer em 2022. Ainda sobre o Enem, Bolsonaro mais uma vez atacou o exame, coisa que ele vem fazendo desde quando estava em campanha eleitoral para a presidência da República em 2018. Para Jair Bolsonaro, o exame continha “questões esquisitas”.

Sem prestígio

A previsão é que a edição do Enem de 2021 seja a menos prestigiada da história do Brasil até agora. Além do óbvio impacto da pandemia do coronavírus, contribui para isso a própria falta de organização do exame nos últimos anos. O jornal El País ouviu estudantes que irão fazer o exame e eles se mostraram preocupados após os 37 servidores do Inep terem entregado seus cargos.

Enquanto Bolsonaro tentava desdizer o que havia dito, no Brasil, Danilo Dupas, o presidente da autarquia responsável pela prova, esteve presente em uma audiência pública no Senado para declarar que também não tinha conhecimento do conteúdo das provas.