Será que é preciso comprovar de que o dito popular de ‘chover no molhado’ é suficiente para o que já se supunha em relação à Educação nos tempos do coronavírus?
O temor de especialistas e profissionais ligados à Educação no Brasil se concretizou: o isolamento social, a perda de convivência com os colegas de classe e a falta de uma presença (real) dos professores ao lado dos alunos tiveram efeitos negativos sobre os jovens. A Educação Básica ensaia para ir direto à UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Mais preocupante é que não se pode atribuir culpa a determinadas regiões do país com problemas de acesso ao ensino ou econômicos.
Praticamente em todas elas apresentaram-se sequelas, deficiências de aprendizagem, abandono e evasão escolar.
Desestímulo
O prejuízo é mais sentido no nível médio de ensino; é que o Censo Escolar divulgou as primeiras informações de como a pandemia afetou a juventude em idade de aprendizagem.
Num estudo comparado entre os anos de 2020 e 2021 – portanto, em pleno auge da pandemia – o abandono dos cadernos e lápis foi mais do que o dobro no Brasil. No primeiro ano, a taxa média era de 2,3%; já no segundo ano foi para 5%.
O Censo Escolar foi apresentado na última quinta-feira, 19/05, pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
Em relação ao ensino fundamental, o ‘trauma’ foi menor: de 1%, em 2020, para 1,2%, em 2021.
A boa notícia é que não existiu elevação de abandono estudantil na rede privada de ensino.
Estes números se espalham pelo território: a julgar pelos critérios geográficos, a região Norte teve um abandono situado em 10%. O Nordeste também obteve percentual acima da média. Incrível perceber que, mesmo com bons índices de qualidade de vida e de educação, o Sul do Brasil registrou uma evasão superior a 5%.
Os estados que regrediram nos resultados educacionais foram: Pará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Bahia e Rio Grande do Sul.
No caso do estado gaúcho, o percentual de 7% de 2020 é alarmante, pois é o triplo do que foi registrado em outros estados da Federação. Só a rede pública do Rio Grande do Sul alcançou 10,7% de abandono.
Reprovação automática
O Censo Escolar mostrou como está a taxa de aprovação na rede pública: a diminuição foi percebida em todos os níveis de ensino. Novamente, utilizaram-se os anos de 2020 e 2021 para comparação.
Do primeiro ao quinto ano, ou seja, a etapa do fundamental, a aprovação foi de 98,9% em 2020. No ano seguinte, registrou-se 97,6% de alunos aprovados. Foi a primeira vez que se observou a queda após 5 anos.
Já no ensino médio, a coisa é mais drástica: a taxa de aprovação passou de 95% para 90,8% em 2021.
Porém, o dado mais preocupante apresentado pelo Ministério da Educação está no resultado de uma prova aplicada aos jovens para saber o quanto a educação foi impactada na pandemia.
Realizou-se uma prova de português e matemática respondida por mais de 3,2 milhões de estudantes de nível médio nas redes pública e privada.
Matemática continua sendo um problema a ser resolvido: apenas 27% dos alunos foram bem ao resolver questões como cálculos simples e números decimais.
A disciplina de Português versou basicamente sobre interpretação de textos e o índice final foi melhor: 57% dos estudantes tiveram resultado positivo.
Porém, em ambas as matérias, permanece o grande ponto de interrogação de que se está muito longe de se ter uma formação sólida e qualificada para a vida profissional. Isso fatalmente prejudica a formação de um ser humano como um todo em outros aspectos, como o intelectual e o pessoal.
Comprovando a tese
A pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas, Ariana Brito, chama a atenção para as consequências nefastas da educação na vida futura do aluno.
E traça um quadro pior para aqueles que têm origem pobre e são obrigados a trabalhar mais cedo.
“Esse aluno vai entrar no mercado de trabalho com uma defasagem de aprendizado muito grande. Se a gente associar isso com questões socioeconômicas (...), o efeito disso é um conjunto de jovens que vai entrar nas ocupações informais.”
A conclusão disso tudo é um discurso velho e surrado acerca da necessidade de se priorizar a educação no Brasil. Mesmo pertencente ao senso comum, isso é ratificado e carimbado pelos especialistas e profissionais da educação. A diferença é que a pandemia reforçou ou tornou muito mais nítido um problema crônico que permeia e sufoca a sociedade.
Metodologia
O Censo Escolar é um importante instrumento utilizado pelo Governo Federal que permite fazer diagnósticos, estatísticas e ter uma visualização da situação educacional no país.
Ele é realizado pelo INEP e conta com a cooperação das secretarias municipais e estaduais de educação.
O principal propósito dele é servir de base para o repasse de recursos financeiros. Seus dados têm uma ampla abrangência e mostra a qualidade e o desempenho das várias fases e modelos do ensino básico como, por exemplo, o ensino especial, a educação regular e os ensinos de jovens e adultos e profissionalizante.