Quem chega à capital baiana pela Baía de Todos o Santos, sobe a Ladeira da Preguiça ou passa pelo Elevador Lacerda, pode avistar os enormes paredões que divisam a Cidade Baixa e a Cidade Alta. Alguns desavisados podem não saber, mas nesse local se encontra a antiga Muralha do Frontispício, que defende, desde 1550 - início de sua fundação - a cidade de Salvador.

Narrando a história

Existe na cidade de Salvador um desnível considerável, responsável por dividir a Cidade Alta e a Cidade Baixa. Esse desnível constitui uma Falha geológica. Denomina-se falha, a superfície cujo deslocamento compõem blocos que formam um degrau.

O movimento responsável por formar a Falha de Salvador, ocorreu no início do Período Cretáceo, há quase 145 milhões de anos. Já as rochas que o compõe e se deslocaram, são Pré-Cambrianas, com cerca de um bilhão e seiscentos anos, período ainda mais antigo.

É justamente dessa Falha que se origina o relevo da capital baiana.

Com o intuito de unir as duas cidades, Alta e Baixa, geologicamente separadas por essa escarpa de falha, que foram construídos ao longo do tempo o Elevador Lacerda, os Planos inclinados e as incontáveis ladeiras que circundam a região, como a Ladeira da Preguiça, a Ladeira da Água Brusca, a Ladeira da Montanha dentre tantas outras.

A escarpa de falha encontra-se à frente da Baía de Todos os Santos, que recebeu este nome seguindo a tradição católica, por ter sido descoberta no dia 1º de novembro, dia de Todos os Santos.

Para os portugueses, este parecia ser o ponto mais adequado da costa brasileira para abrigar a primeira capital do Brasil e sede do governo português no novo mundo, uma vez que reunia às condições necessárias para as embarcações e uma referência para os navegadores, respeitando as medidas administrativas do Regimento de Almerim, trazida pelo então governador-geral Thomé de Souza.

E foi justamente por suas ordens que, em 1º de abril de 1549, a província do Salvador, bem como a muralha que a circundava, começou a ser construída.

Na parte baixa da cidade, passou a se constituir a zona comercial. Ali se encontravam trapiches, armazéns, e uma pequena capela, a qual fora dedicada à Nossa Senhora da Imaculada Conceição.

A região escolhida por Thomé de Souza para abrigar o regimento do governo e a corte foi a parte Alta. Assim, Salvador começou a ganhar forma.

A preocupação maior dos portugueses residia na defesa da nova cidade. Assim, os primeiros paredões da Muralha do Frontispício foram erguidos em taipa de pilão, com o objetivo de promover a segurança dos primeiros habitantes da província.

De acordo com o pesquisador Freitas (2012), “A altura inicial era de três metros e 60 cm. Foram rebaixados para 2 metros e 20 cm, rebocados de cal de dentro e de fora. Estavam concluídos em dezembro de 1550”.

No entanto, ainda hoje, que chega à Salvador pela Baía de Todos-os-Santos, avista a antiga Muralha do Frontispício, que defende a capital baiana desde a sua fundação.

Nos séculos que se seguiram o trecho sofreu sucessivas construções e reconstruções. Assim, o paredão foi sendo reforçado e ampliado, ao longo do tempo. A atual estrutura atual data de 1870. Em 2020, a estrutura foi completamente recuperada pela Prefeitura.

Restauração

Com um investimento milionário, de R$ 4,6 milhões de reais, cerca de 1,1km do Centro Histórico baiano foi recuperado. A intervenção foi realizada mediante projeto cedido pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional) à prefeitura de Salvador.

A intervenção, feita com recursos próprios, envolveu a implantação de iluminação cênica, bem como, a recuperação, a consolidação e estabilização estrutural das muretas e muralhas, além de outras obras de restauração e restruturação de outros patrimônios existentes nesse entorno.

Essas ações garantem não apenas a preservação e manutenção e do Patrimônio arquitetônico e cultural baiano, mas também, da história brasileira ao turista e visitante.